terça-feira, 31 de julho de 2012

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Betânia, a cobra e o mundo



Em junho de 1970, uma cantora considerada o novo fenômeno da Música Popular Brasileira chegava ao Recife para o seu primeiro show na capital pernambucana. Hospedada no Hotel São Domingos, no centro, ela recebeu a equipe do Diario escalada para uma entrevista. O repórter Valdi Coutinho e o fotógrafo Maurício Coutinho foram recepcionados pela irmã de Caetano Veloso como se fossem velhos conhecidos, apesar do atraso. Rolou uma conversa pra lá de informal, que rendeu página inteira no Terceiro Caderno, suplemento cultural publicado aos domingos. Na capa, a chamada: “Maria Betânia: eu acho o homem brasileiro lindo”.
Na página 2, uma língua afiada em respostas curtas. Betânia fala de amor total, sucesso, massa ou elite, Capiba, pileque, fossa, amores não correspondidos, filhos, Elis Regina grávida e a sua estreia no Recife. Na abertura da entrevista, Valdi Coutinho ressalta que Betânia estava conversando com um grupo quando a reportagem chegou. No meio da entrevista, ele destaca que “Alguém” pergunta por que Betânia está sempre com uma cobra de ouro enroscada no braço. “Eu amo. Aqui tem um time de futebol que tem a cobra como símbolo, não é?”. O “Alguém” confirma: “sim, o Santa Cruz…”.
Com o passar das décadas, Betânia se tornaria mais reservada. Continuaria autêntica, mas não falaria abertamente das suas preferências. Nesta entrevista histórica ao Diario, a última pergunta era sobre o seu “caso” atual. A resposta vale até hoje: “Ninguém. Amo todo mundo. Não tenho medo de nada. Não sou indiferente. Gosto de Maria Betânia porque não sou minha, sou de Deus e do mundo”.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pelé foi oferecido ao Sport quando tinha 16 anos.Time rubro negro não quis



No dia 5 de novembro de 1957, o Sport cometeu o maior erro da sua história. Num desses lances que só acontecem uma vez na vida, o Leão teve a oportunidade de contar com o reforço de ninguém menos do que Pelé, oferecido pelo Santos ao então diretor José Rosemblit. Para infelicidade geral da torcida rubro-negra, o clube rejeitou a proposta. O argumento da época foi que o garoto, com 17 anos, era novo e desconhecido. Durante muitos anos esse fato foi questionado e estava fadado a entrar para a posteridade como mais uma lenda do futebol.
Mas agora, 42 anos depois, os incrédulos terão que se curvar às evidências. A reportagem do DIARIO teve acesso a um telegrama, que se julgava perdido ou inexistente, comprovando o oferecimento de Pelé ao rubro-negro pernambucano. A relíquia estava guardada a sete chaves pela família Menezes, a mesma de Ademir, artilheiro da Copa de 50.
Adamir, primo do Queixada, foi quem intermediou a negociação. Por isso, ele acabou ficando com o documento. "Papai era representante comercial e tinha muitos contatos com os clubes de São Paulo. Conversando com o presidente do Santos, ele pediu alguns reforços para o Sport. O telegrama foi a resposta a esse pedido", explica Ronald Menezes.
Com a morte de Adamir, a guarda do precioso telegrama ficou com sua esposa, dona Elza Menezes, e com os cinco filhos do casal, todos rubro-negros doentes, de carteirinha. "Nós sabíamos que, algum dia, iríamos dar esse documento histórico de presente ao Sport. Por isso, guardamos com tanto carinho", falou Adamir Júnior, o mais novo do clã dos Menezes.
Os Menezes guardaram o telegrama com tanto cuidado que a história quase cai no esquecimento. Segundo dona Elza, nem o próprio Pelé sabe da existência do documento. "Sempre quando vinha ao Recife, acompanhando a equipe do Santos, Pelé passava em nossa casa. Lembro que a rua ficava cheia. Mas eu nunca mostrei o telegrama a ele e acredito que meu marido também não".
Apesar da vontade da família em repassar o telegrama ao Sport, a oportunidade só surgiu por acaso,num churrasco, semana passada. Os irmãos Menezes encontraram o diretor de Futebol do clube, Fernando Lima. No meio da conversa surgiu o assunto. Fernando não perdeu tempo e confiscou o documento para o museu rubro-negro. "Vamos fazer uma grande homenagem a esta família para agradecer a doação", avisou o dirigente.
AZAR - Mais do que incompetência dos dirigentes rubro-negros da época, o desinteresse por Pelé parece ter sido pura falta de sorte. "Ninguém tem bola de cristal. Naquele tempo, o intercâmbio entre os clubes era muito pequeno. Não existia televisão transmitindo os jogos ao vivo como hoje. Ninguém poderia imaginar que um garoto desconhecido poderia se tornar o que se tornou", argumentou Rômulo Menezes.
Fernando Lima, que hoje é um dos responsáveis pelas contratações do Sport, também absolve Rosemblit e Adelmar Costa Carvalho, presidente do clube em 57, de qualquer culpa. "Eles não poderiam prever o futuro". Mas Modesto Roma, presidente do Santos na ocasião, já previa o potencial de Pelé. Tanto é que a negociação seria por empréstimo e por apenas quatro meses. A transação, do ponto de vista santista, era apenas para dar experiência ao atleta, que naquele momento era reserva de Pagão.

Junto com Pelé, e até com mais destaque, o Peixe também oferecia Ciro. Se na época do episódio ele era mais conhecido do que o Rei, passou para história apenas como coadjuvante. A reportagem do DIARIO passou os últimos quatro dias tentando localizá-lo e não encontrou nenhuma pista.
Enquanto Ciro mergulhava no anonimato, Pelé começava a ganhar projeção nacional. A convocação para a Seleção Brasileira não demorou e, sete meses depois, conquistava a Copa do Mundo. Estava iniciada a trajetória que o levaria ao título de Atleta do Século.
DESTINO - Mas será que a história seria a mesma se o Sport resolvesse ficar com o camisa 10 ? "Isso ninguém jamais vai saber", responde Romildo Menezes. Muito provavelmente, Pelé não seria convocado para a Seleção campeã mundial na Suécia. Talvez a Seleção nem fosse campeã. E se ele fosseconvocado, o Rei iria atuar ao lado de Vavá que, esse sim, jogou no rubro-negro pernambucano.
Agora, para o Sport as coisas poderiam mudar muito. Talvez o Leão fosse campeão estadual, acrescentando mais uma estrela as suas conquistas e, de quebra, tirando o título de supercampeão, em 57, do rival Santa Cruz. Chato seria para os torcedores dos times adversários terem que aguentar os rubro-negros se gabando do fato do Rei do Futebol já ter vestido o manto rubro-negro.