Segundo o historiador Nelson Werneck Sodré, o nascimento da imprensa como conhecemos hoje, só foi possível graças ao capitalismo, independente de qual parte do mundo seja. Ele comprova sua afirmativa mostrando exemplos do continente europeu, berço do capitalismo e dos Estados Unidos, onde o patriarca da imprensa no Brasil viu um espelho de como se faz liberalismo econômico.
A massificação das idéias está intimamente ligada ao capitalismo. A máquina de prensa foi um investimento alto para poder se fazer os primeiros livros, mais notadamente a bíblia traduzida para várias línguas com a reforma protestante, que alem de tentar uma nova massificação também tinha ideais capitalistas inseridos. A partir daí a inovação de Gutemberg serviu para a confecção de livros em universidades européias.
Mas embora essa “democratização” da idéias fossem surgindo, o intuito era burguês de dar uma nova ordem mundial, ou seja, fazer uma nova concentração baseada em seus interesses de comércio. A igreja que antes detinha o poder intelectual, viu nas novas obras uma afronta não só as suas pregações, mas sobretudo ao seu poder, por isso, livros que não faziam parte da ideologia católica eram considerados proibidos e seus seguidores como heréticos.
A imprensa colonial
O pecado do livro
Na América hispânica por encontrar uma sociedade mais dinâmica de origem mineradora que a sociedade indígena e escravocrata da América portuguesa, os colonizadores trouxeram a imprensa para ao Brasil de forma atrasada. A sociedade brasileira só foi ter uma dinamicidade maior, quando também, mais tardiamente, foi descoberta a mineração. A elite brasileira da época ia concluir seus estudos na Europa e com isso traziam novas idéias de lá como o liberalismo para aquela sociedade cheia de hierarquias. Porem, apesar de maior acesso dos brasileiros a essas idéias, a estrutura rico x pobre não mudou, isso porque só os mais abastados tinham a oportunidade de ir à Europa e a burguesia queria fazer um tipo de dominação mais sutil, tipicamente capitalista, acabando com a cultura e subordinando intelectualmente os menos favorecidos.
O sacrilégio da imprensa
A tipografia enfim chegou ao Brasil. Mas teve motivo para isso. Depois de fugir de Napoleão Bonaparte, a Família Real Portuguesa, veio se estabelecer na colônia. Então, se fez necessário ter uma tipografia para divulgar as ações governamentais para seu povo. Por isso, foi feito o jornal Gazeta do Rio de Janeiro, de preço baixo, de intensa periodicidade, intenção mais informativa do que doutrinária. Mas não havia bondade nisso, o jornal oficial não era atrativo para o público por não ter essa preocupação, não tratava com efervescência a democracia e censurava qualquer tentativa de informação com teor que não agradasse a corte.
Hipólito da Costa e o Correio Braziliense
Três meses antes é lançado o jornal Correio Braziliense. O periódico mensal tinha a intenção de desencobrir as ações negativas da corte, como por exemplo o fechamento dos portos às outras nações para não haver comércio. Logicamente a medida prejudicava a burguesia inglesa ascendente para a qual Hipólito prestava serviço, por isso o jornal teve um papel discutível.
Hipólito fazia matéria, editava e enviava o jornal para o Brasil, tudo isso nos 12 anos de vida do Correio Braziliense diretamente de Londres, onde foi acolhido por ser filiado à maçonaria, momento em que foi expulso de Portugal pela Igreja Católica. Em missão ainda pelo estado português, teve contato com a cultura dos Estados Unidos e ficou maravilhado,pois aquele país já havia aderido o desenvolvimento tecnológico e democrático proporcionado pelo liberalismo político e econômico.
A ida de Hipólito aos Estados Unidos influenciou bastante sua vida como estadista e o fez ter uma visão mais elaborada do que seja o liberalismo. Juntando-se aos interesses da burguesia inglesa, entrou de vez na missão de acabar com o monopólio que Portugal tratava suas ações comerciais. Assim fundou o Correio Braziliense, que era de periodicidade longa, intenção mais doutrinária do que informativa e tinha o preço alto.
O Correio Braziliense também não ficou livre da censura. Mas apesar do sofrimento praticado pela corte portuguesa no Brasil, o jornal era lido em Portugal e na Inglaterra, garantindo repercussão e graças ao momento oportuno de gerência ruim do governo português, preparou terreno para a emancipação política do Brasil. Obviamente tudo isso favoreceu a burguesia inglesa que queria garantir mercado para seu comércio.
Assim, Nelson Werneck conclui que o reduzido número de veículos de imprensa, assim como na introdução, se diz respeito a não inserção do capitalismo. Foi o que aconteceu no Brasil.
A Imprensa Áulica (governamental)
Os holandeses do séc. XVII dominaram alguns dos mais importantes espaços da colônia – o nordeste açucareiro. No entanto, segundo Werneck Sodré, mesmo introduzindo alguns elementos característicos das atividades burguesas, os holandeses não desenvolveram a imprensa, pois a economia do período não gerava as exigências necessárias à sua instalação.
“Não convinha a Portugal que houvesse civilização no Brasil. Desejando colocar essa colônia atada a seu domínio, não queria arrancá-la das trevas da ignorância. Manter as colônias fechadas à cultura era característica própria da dominação.” (D. Francisco Manuel de Melo, apud Sodré, p.18).
A imprensa só surgiria no Brasil, com a chegada de D. João VI (1808), e mesmo assim, por proteção e iniciativa oficial.
O decreto de instalação da “Impressão Régia”, depois conhecida por Real Officina Typographica, Tipographia Nacional, Tipographia Imperial e Tipografia Nacional, foi de 13 de maio de 1808.
Gazeta do Rio de Janeiro
O jornal Gazeta do Rio de Janeiro, na verdade “um jornal português editado no Rio de Janeiro”, datado de 16 de maio de 1808, era executado nas oficinas da “Impressão Régia”.
Jornal de quatro páginas. Sua pauta incluía a publicação de atos oficiais, notícia sobre a saúde dos príncipes europeus e informações sobre a família real. Este jornal estava sob a administração portuguesa e, portanto, não falava em democracia e não fazia críticas. Não podia ir contra bons costumes do reino. As notícias revelavam um Brasil onde não havia reclamações ou queixas.
Correio Braziliense
Impressão em Londres do almanaque “Correio Braziliense”, editado pelo
português nascido na Colônia do Sacramento, Hipólito José da Costa
Pereira Furtado de Mendonça, cujo primeiro número é datado de 1° de
Junho de 1808.
português nascido na Colônia do Sacramento, Hipólito José da Costa
Pereira Furtado de Mendonça, cujo primeiro número é datado de 1° de
Junho de 1808.
Mensal, de 72 a 140 páginas. Falava sobrepolítica, comércio, arte, literatura e ciências. Discutia as questões que afetavam o Brasil, Portugal e Inglaterra. Pretendia atacar os defeitos da administração no Brasil, a corrupção e imoralidade e criticava os monopólios portugueses. Defendia o livre comércio com outras nações e o abolicionismo.
O atraso da imprensa no Brasil Colônia, no entender de Werneck Sodré, tinha apenas uma explicação: “ausência de capitalismo. Para ele, só nos países onde o capitalismo se desenvolveu, a imprensa se desenvolveu.” (p.28)
O surgimento de jornais que valorizava e engrandecia as atitudes da corte, não se resumiu a Gazeta do Rio de Janeiro. Para Werneck Sodré, esta defesa do absolutismo, demonstrava, na verdade que o mesmo já estava em declínio.
As Condições Materiais
A última parte do texto se preocupa em analisar as condições materiais para o desenvolvimento da imprensa no Brasil. São algumas iniciativas tipográficas ou de vendas de livros, as condições são os reflexos das atitudes tomadas pela metrópole em relação à coroa: o não questionamento das estruturas portuguesas.
Até os últimos anos do Brasil – Colônia era proibido questionar:
•A religião.
•A religião.
•A moral portuguesa.
•A pessoa do rei.
•Perturbar a tranqüilidade pública.
Segundo Werneck Sodré o problema da imprensa no Brasil – Colônia é, em última análise, uma questão política, pois ocorre uma postura nada ingênua da coroa portuguesa, em estabelecer a dominação sobre a sua principal colônia.
Conclusão
A imprensa periódica brasileira tem sua origem oficial com a instalação da Imprensa régia, em 1808, logo após a vinda da família real ao Brasil. Caracterizada em sua primeira fase, pela imprensa áulica, em fins da década de 1820 já se assistia à disseminação de um grande número de títulos pelos principais centros urbanos do Império. A intensa produção de jornais era sustentada pela crença no grande potencial educativo desse tipo de impresso e, este trabalho, tem como foco a análise do jornal O Mentor das Brasileiras, impresso entre novembro de 1829 e junho de 1832 na cidade de São João del Rei, uma das principais da província de Minas Gerais no período.
Este jornal se destaca por ser o primeiro da província declaradamente voltado para o público feminino, e provavelmente o segundo do Brasil com essa finalidade. Analisa-se a sua materialidade e a interlocução que realiza com outros textos, o que resulta num texto híbrido. Sendo assim, na sua função de educar e instruir o público feminino, acaba por proporcionar o acesso a diversos outros textos de naturezas distintas e menos acessíveis.
Comentário
“Imprensa controlada? Não!”
Sob as pedras do autoritarismo da Inquisição e da metrópole portuguesa, o Brasil colônia mal tinha acesso a livros e a imprensa era nula. Depois da chegada a Corte Portuguesa ao Brasil, nasce a imprensa áulica para tecer louvores à família real e ao absolutismo em declínio. A única voz relevante de contraponto era o Correio Braziliense, do jornalista Hipólito da Costa, que escrevia de Londres, porque em terras brasileiras seria preso pela Coroa.
Dois séculos depois, o PT, através de seu Goebbels, Franklin Martins, quer criar um novo aparato de imprensa áulica - como deixou claro o documento aprovado esta semana pelo diretório do partido. O documento é claro: um dos principais objetivos do governo Dilma será regulamentar a imprensa. Governo regulando o jornalismo?
Historicamente, a imprensa brasileira sempre esteve tutelada pelo Estado. Foi assim na Era Vargas, na ditadura militar e na distribuição de canais no final dos anos de 1980. Temos vários canais de cartório. Atualmente, a imprensa brasileira é mais profissional e livre, todavia, o governo petista quer agarrá-la com os tentáculos do Estado, leia-se, partido.
Os planos autoritários são escamoteados por termos politicamente corretos como, Plano de Direitos Humanos. Armadilha para pegar trouxa e alimentar as justificativas dos próceres da tirania. Quem comandará os tais órgãos de “controle social” da imprensa? Obviamente, o Estado, controlado pelo PT e as franjas do partido.
Certa feita, o tal FENAJ, um sindicato ilegítimo de jornalistas alinhados ao governo petista e que não representa a totalidade da classe, propôs controle das informações passadas pelos jornalistas. Pergunto: existe ministério público para quê? Se um jornalista cometer desvios cabe aos ouvintes processá-lo ou não assisti-lo mais. E o cara que se vire com o chefe dele e com a justiça. Essa conversa de controle social da imprensa é lorota, querem controlar, intimidar e constranger jornais.
A liberdade de imprensa é relativa no Brasil, sobretudo, nos rincões do país, onde as forças tradicionais tendem a calar a imprensa, inclusive, via violência. Agora, o governo petista quer colocar bridão na imprensa. Que os grandes empresários do meio não caiam nessa arapuca, até porque, não dá para confiar em seus editores, formados nos lamaçais esquerdistas das universidades. É no esgoto universitário que nascem os ideais inquisidores e seus prosélitos.
É dever de todos os democratas, à custa de sangue, suor e lágrimas, se for preciso, resistir a estas propostas autoritárias. Nosso passado nos condena. O controle cartorial está na alma do Brasil, uma herança ibérica nada agradável que devemos repelir.
Nota
Em 2008 quando se comemoravam 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil, o nome de Hipólito da Costa, patriarca do jornalismo brasileiro, foi ostensivamente omitido. Assim o jornalismo brasileiro deixou de ter um início e uma história.
Mas no dia 5 de julho de 2010, foi promulgada a Lei 12.283 pelo então presidente em exercício, José Alencar, que Hipólito da Costa é o primeiro herói nacional do Brasil.