Por José Marques de Melo
O campo da folkcomunicação foi descortinado em 1951, por Marshall McLuhan, ao lançar seu livro de estréia “The Mechanical Bride”, tendo como objetivo de análise o “folclore do homem industrial”. Uma década depois, Luiz Beltrão inicia o estudo sistemático da matéria, ao implantar o curso de Jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco. As pistas históricas estavam evidentes em seu livro “Iniciação à Filosofia do Jornalismo” (Rio, Agir, 1960), que ele procura disseminar entre os discípulos nordestinos. Mas ele próprio envereda por caminho distinto do percorrido por McLuhan. Focaliza não só a apropriação da folk culture pela mídia, e sim o uso da mass culture pelo folclore, recodificando e interpretando o conteúdo da mídia para compreensão do povão.
Em 1967, quando defende sua tese de doutorado na Universidade de Brasília, Luiz Beltrão lança as bases de uma interdisciplina que conquistaria adeptos em todas as partes do país, suscitando também o interesse de intelectuais do calibre de Umberto Eco.
Mas estudos de folkcomunicação só ganhariam maior impacto e teriam mais difusão a partir d 1998, quando se estrutura a rede Folkcom, congregando os jovens pesquisadores da área. Além de se reunir anualmente nas Conferências Brasileiras de Folkcomunicação e de pesquisar os novos fenômenos emergentes do campo, a nova geração deu alento às teses de Luiz Beltrão, renovou-as sem cair na tentação de torná-las preceitos canônicos.
O esforço rejuvenescedor e a ousadia revitalizadora da Rede Folkcom acabam de ser reconhecidos pelo júri do Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação, mantido pelo Intercom com o patrocínio do Programa Globo Universidade. Ao receber, das mãos do presidente da Intercom, Antonio Holfeldt, o troféu de “Grupo Inovador”, o professor Marcelo Pires de Oliveira (Bahia), presidente dessa rede acadêmica, seguramente vai destacar o mérito dos seus antecessores na liderança da nova geração, como é o caso das professoras Cristina Schmidt (São Paulo) e Betânia Maciel (Pernambuco), além de realçar a persistência e o entusiasmo de Roberto Benjamin (Recife), Osvaldo Trigueiro (João Pessoa), Joseph Luyten (São Paulo), Sebastião Breguez (Belo Horizonte), Luis Custódio (Campina Grande), Sérgio Gadini (Ponta Grossa), que vêm amadurecendo a pesquisa folkcomunicacional.
Confirmando o acerto da decisão oriunda do júri da Intercom, a editora do Senado Federal acaba de lançar dois livros de autoria do professor Wolfgang Teske, pesquisador da Universidade Federal do Tocantins, contendo estudos de caso dos processos folkcomunicacionais quilombolas, expressando a resistência cultural das comunidades negras marginalizadas naquela região.
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