Outro ponto de destaque da imprensa local se reflete diretamente no mercado de jornais em que o Jornal do Commercio e o Diário de Pernambuco concorrem. Periódicos estes que vêm se destacando pelo recebimento de diversos prêmios.
Ivanildo Sampaio, diretor de redação do Jornal do Commercio, explica à IMPRENSA o atual cenário de concorrência entre os periódicos pernambucanos e os esforços do JC em produzir reportagens especiais, em um momento em que muitos jornais brasileiros estão diminuindo seus cadernos.
Você foi o responsável por reformular o Jornal do Commercio há mais de 20 anos?
O jornal estava em uma situação muito complicada quando assumi. Era momento de greve de funcionários e uma séria crise. Eu cheguei para colocar novamente o jornal na rua. Em todo esse processo, o jornal acompanhou a evolução que existia no mundo do impresso. Compramos o que tinha de melhor em termos de equipamento e adotamos uma política de venda de assinatura. Antes, ele circulava somente em banca. Isso ajudou o JC a se estabelecer entre bons concorrentes que temos no mercado pernambucano: um é o Diário de Pernambuco; o outro, a Folha de Pernambuco. Tudo isso fez com que o jornal chegasse à liderança em quatro an os.
O JC está ligado a um grupo comercial. Isso interfere na política editorial?
A influência sempre foi em termos de estrutura, mas nunca na linha editorial. O grupo [JCPM] sempre foi pioneiro. É uma administração que tem preocupação com tecnologia e que também foi levada para o jornal. Muitas vezes, essa área de tecnologia ficou na mão de pessoas não qualificadas e o que fizemos foi entregar para profissionais que entendiam do assunto. Eu sempre acreditei que jornal se faz com equipe e equipamento.
Como anda a formação dos jornalistas em Pernambuco?
Tem ótimos profissionais, mas muita gente ruim também. As universidades colocam no mercado uma leva muito grande de jornalistas novos. Nós já contratamos profissionais multimídia, aqueles que saibam falar no rádio, escrever para o jornal, para a internet, ou seja, um profissional que domine várias linguagens. Temos aqui, em Recife, uns quatro ou cinco cursos de Comunicação que formam bons profissionais. Infelizmente, não conseguimos absorver todo o pessoal que é formado, mas, pelo menos, uns 10% a gente consegue colocar aqui para aprender.
Você tem um histórico de ter vindo de uma família humilde. Existem muitos jornalistas nessa situação? Isso muda algo na visão do profissional?
Geralmente não. Sempre quando identificamos alguém muito brilhante na redação, geralmente a família dele é de classe média. É uma formação familiar acima da média que incentiva o gosto pela leitura. Não significa que o filho de um carroceiro não terá boas qualidades ou um bom texto, mas, muitas vezes, acaba não tendo aquela oportunidade cultural de quem nasceu em outra realidade.
O JC tem se destacado pelos prêmios que vem recebendo. As reportagens especiais são uma prioridade para vocês?
É fato que investimos muito em projetos especiais. Ano passado, fizemos um especial sobre o 11 de setembro. Hoje, realmente não é qualquer jornal que está disposto a investir neste tipo de reportagem, em um caderno de 24 páginas que vai sair em um domingo, mas mantemos essa filosofia de trabalho e entendemos que ela tem nos dado credibilidade e diferencial. Geralmente, quando chega fevereiro, assim que passaram as férias, faço uma reunião com toda a redação para traçar um calendário de projetos especiais. Hoje, minha equipe de repórteres especiais é de seis profissionais, que podem trabalhar em qualquer editoria. Mensuramos quanto vai custar o projeto e aprovamos.
Esses projetos são aplicados com o objetivo de ganhar prêmios?
Quando percebemos que a matéria tem chance de um bom prêmio investimos mais nela. Muitas vezes, os jornais regionais acabam acreditando que não podem concorrer com jornais nacionais. Mas queremos concorrer, sim, com nacionais. Em uma mesma edição do Prêmio Esso, ganhamos o prêmio nacional e outros dois regionais.
Os jornais brasileiros ainda possuem força política?
Sim, ainda tem, mas não é mais como acontecia nas décadas de 1960 ou 70. Naquela época, uma denúncia derrubava um político; hoje até acontece, mas em outra proporção. Agora, que os jornais ainda conseguem incomodar isso é fato. O importante é nunca tomar partido e nunca baixar a cabeça. O presidente da nossa empresa não é político e nunca sonhou em ser político. Isso faz com que tenhamos uma convivência sadia.
Já teve alguma matéria que vocês pensaram duas vezes antes de publicar?
Eu já tive matérias que deu medo de publicar, principalmente temendo pela segurança do repórter. Já fizemos matéria sobre crack que o repórter conviveu com traficantes. Era uma matéria muito perigosa para o repórter e, quando ela foi publicada, eu até pedi para que ele tirasse férias. Não houve ameaça, mas tomamos essa precaução. Às vezes, os poderes políticos tentam falar grosso, principalmente o Legislativo. Mas de uma forma em geral está sendo possível trabalhar. Estamos produzindo muitas matérias sobre temas perigosos... Entramos em favelas e presenciamos a banalização da morte. Infelizmente isso já não choca mais ninguém.
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