Por Diário de Pernambuco
A cada novo depoimento, o enredo torna-se ainda mais macabro. Quase
surreal. Os três suspeitos de esquartejarem três mulheres, sendo duas em
Garanhuns nos últimos dois meses, revelaram ontem que faziam parte de
uma seita chamada Cartel. Um dos objetivos era combater o aumento
populacional. Por isso, exterminavam mulheres que já tinham filhos e
comiam a carne humana como forma de purificação.
Vez por outra, transformavam em salgados, como coxinhas e empadas, para
ser vendidos pelas ruas. Ontem à noite, um dia após a polícia descobrir
restos mortais de duas vítimas enterrados no quintal da casa onde os
suspeitos moravam, eles foram encaminhados a cadeias públicas. A polícia
já investiga o extermínio de até oito vítimas, uma delas na Paraíba e
outra no Rio Grande do Norte. O número pode ser muito maior.
Bruna Cristina de Oliveira da Silva, 22, revelou sua verdadeira
identidade. Até então, ela se passava por Jéssica Camila da Silva
Pereira, 17, a primeira vítima do trio. Em 2008, a suspeita e casal
Jorge Beltrão Negro Monte da Silveira e Isabel Cristina Pires da
Silveira conheceram Jéssica próximo a um canal de Boa Viagem, no Recife.
Moradora de rua, ela aceitou o convite de trabalhar como doméstica para
os três, em Rio Doce, Olinda. Dois meses depois, foi esquartejada e
comida quando quis deixar a casa. A filha dela, de dois anos, também foi
obrigada a comer carne humana. A carne da própria mãe. Em 25 de
fevereiro deste ano, atraída por um emprego de babá, Giselly Helena da
Silva, 31, passou pelo mesmo ritual. Menos de um mês depois, foi a vez
de Alexandra Falcão da Silva, 20. Tudo foi registrado em texto e
ilustrações no livro Revelações de um Esquizofrênico, produzido e
registrado em cartório por Jorge.
Próxima vítima - Uma mulher de 18 anos prestou depoimento na 2ª
Delegacia de Garanhuns. Ela seria a próxima vítima, segundo relato de
Isabel Silveira. Até a vala estava preparada para receber o cadáver. À
polícia, depois de serem presos, o trio alegou sofrer de esquizofrenia. O
delegado Wesley Fernandes não acredita na versão.
“Trata-se de uma tese de defesa”, afirmou. Segundo o delegado, a
execução da mulher de 18 anos não aconteceu porque ela acabou não indo à
casa dos suspeitos. A suposta vítima, no entanto, afirmou não conhecer
nenhum Jorge, Isabel e Bruna. Ela, que prestou depoimento na tarde de
ontem, não quis dar entrevista.
A história que uniu os três vilões de um dos crimes mais bárbaros já
registrados em Garanhuns começou há cinco anos. Jorge conheceu Bruna. O
fato tinha tudo para abalar a união dele com Isabel, mas o
relacionamento entre os três se fortaleceu. Tanto que passou a incomodar
os outros membros da família
O envolvimento dele com o crime de estelionato foi o fator culminante
para que o trio fosse expulso de casa. Segundo relatos de parentes, eles
passaram a viver em Rio Doce, em Olinda. Surgiram os primeiros contatos
com a seita e o início dos extermínios em série, seguidos de
canibalismo. Depois de assassinar Jéssica, o triângulo amoroso passou a
viver na Paraíba. Lá, teriam feito mais uma vítima. No Rio Grande do
Norte, outro registro. Depois eles voltaram a morar em Olinda, onde duas
mulheres teriam sido exterminadas e comidas. No Recife, mais duas.
“Somente Isabel confessou o envolvimento em oito assassinatos com
participação dos três. Jorge e Bruna só confessam a morte das três
mulheres (Jéssica, Giselly e Alexandra)”, disse o delegado. Após o
esquartejamento, o coração, o fígado e os músculos da perna eram
tirados, fervidos e comidos pelos suspeitos e pela criança que hoje tem
cinco anos. Ela, que tem duas certidões de nascimento registradas, está
sob a guarda do Conselho Tutelar.
Na manhã da última quarta, quando a polícia chegou até a residência dos
envolvidos, em Jardim Liberdade, a criança apontou onde estavam os
restos mortais das duas mulheres executadas no local. Ela contou que
presenciou as mortes. A polícia só chegou aos suspeitos porque começou a
investigar o sumiço de Giselly. Faturas dos cartões de crédito chegaram
à casa da família dela. O delegado solicitou as imagens do circuito
interno das câmeras das lojas e comprovou que o trio fazia compras com
os cartões. Com mandados de busca e apreensão, policiais foram à
residência dos suspeitos e flagraram os corpos, que estão no IML do
Recife. Até a noite de ontem, não haviam sido reconhecidos.
Revoltados com a crueldade, vizinhos saquearam e atearam fogo no imóvel
onde os suspeitos viviam. Eles disseram que sempre acharam estranho o
comportamento do trio, mas não imaginavam tamanha crueldade. Carnes
humanas, temperadas, dentro de freezers teriam sido encontradas e
levadas por populares. Os suspeitos confessaram que desfiavam as carnes e
preparavam salgados para vender. Testemunhas afirmaram já ter visto e
até comprado a comida sem saber que se tratava de restos mortais. O
inquérito ainda não tem prazo para ser concluído.
Trechos do livro “Diário de um Esquizofrênico”
“Tudo isso que revelei, não sou eu, nem ninguém, é só a minha mente.” O autor.
Capítulo XXIV
O plano macabro de destruir a adolescente maldita “Um dia eu
aproveitando que a adolescente do mal não estava, combinei com Bel e com
Jéssica um modo de destruí-la, e chegamos a uma conclusão: matá-la,
dividi-la e enterrá-la. Só que cada parte dela em um lugar diferente.
Era uma noite de chuva forte, relâmpagos e trovadas. A criatura do mal
estava em um quarto da casa: olho para Bel e para Jéssica com um olhar
de que aquela noite seria o momento certo para destruir o mal. Todo ser
humano tem um instinto assassino, e tal instinto é liberado em situações
como esta. O homem também é o único ser que mata por prazer, mas até o
matar por prazer é uma espécie de auto-proteção do seu eu, provando com
isso que ele tem o poder sobre outras vidas.”
Capítulo XXVI
A dividida “Vejo aquele corpo no chão, Jéssica desconfia que ainda se
encontra com vida, pego uma corda, faço uma forca e coloco no pescoço do
corpo, puxo para o banheiro e ligo o chuveiro para todo o sangue
escorrer pelo ralo. Ao olhar para o corpo já sem vida da adolescente do
mal, sinto um alívio. Pego uma lâmina e começo a retirar toda a sua
pele, e logo depois a divido. Eu, Bel e Jéssica nos alimentamos com a
carne do mal, como se fosse um ritual de purificação. E o resto eu
enterro no nosso quintal, cada parte em um lugar diferente.”
Entenda o crime
O trio de suspeitos conheceu a moradora de rua Jéssica Camila da Silva
Pereira em 2008, num canal de Boa Viagem. Fizeram o convite e ela
aceitou trabalhar como doméstica na casa deles, em Rio Doce, Olinda.
Dois meses depois, Jéssica foi assassinada quando demostrou o desejo de deixar a casa. Ela teve o corpo esquartejado.
A carne humana foi comida pelos suspeitos e pela filha da vítima, então com dois anos
Os ossos e restos mortais foram enterrados no quintal da casa deles.
Meses depois, antes de se mudarem para a Paraíba, eles levaram os ossos
para um terreno baldio
A carne humana era fervida e comida pelos suspeitos e pela criança, numa
espécie de purificação. Em depoimento, os suspeitos afirmaram que a
carne também era congelada. Depois, fervida e desfiada para ser
transformada em salgados, como coxinhas e empadas, que eram
comercializados na cidade
Quando passaram a morar em Garanhuns, no Agreste, passaram a aliciar
mulheres para emprego de babá da criança. Giselly e Alexandra foram
atraídas pela vaga. Em datas diferentes, foram esquartejadas.
A polícia já investigava os suspeitos por conta da movimentação de
cartões de crédito das vítimas. Quando chegaram na casa dos suspeitos a
criança apontou onde estariam os corpos.
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