segunda-feira, 30 de julho de 2012

Betânia, a cobra e o mundo



Em junho de 1970, uma cantora considerada o novo fenômeno da Música Popular Brasileira chegava ao Recife para o seu primeiro show na capital pernambucana. Hospedada no Hotel São Domingos, no centro, ela recebeu a equipe do Diario escalada para uma entrevista. O repórter Valdi Coutinho e o fotógrafo Maurício Coutinho foram recepcionados pela irmã de Caetano Veloso como se fossem velhos conhecidos, apesar do atraso. Rolou uma conversa pra lá de informal, que rendeu página inteira no Terceiro Caderno, suplemento cultural publicado aos domingos. Na capa, a chamada: “Maria Betânia: eu acho o homem brasileiro lindo”.
Na página 2, uma língua afiada em respostas curtas. Betânia fala de amor total, sucesso, massa ou elite, Capiba, pileque, fossa, amores não correspondidos, filhos, Elis Regina grávida e a sua estreia no Recife. Na abertura da entrevista, Valdi Coutinho ressalta que Betânia estava conversando com um grupo quando a reportagem chegou. No meio da entrevista, ele destaca que “Alguém” pergunta por que Betânia está sempre com uma cobra de ouro enroscada no braço. “Eu amo. Aqui tem um time de futebol que tem a cobra como símbolo, não é?”. O “Alguém” confirma: “sim, o Santa Cruz…”.
Com o passar das décadas, Betânia se tornaria mais reservada. Continuaria autêntica, mas não falaria abertamente das suas preferências. Nesta entrevista histórica ao Diario, a última pergunta era sobre o seu “caso” atual. A resposta vale até hoje: “Ninguém. Amo todo mundo. Não tenho medo de nada. Não sou indiferente. Gosto de Maria Betânia porque não sou minha, sou de Deus e do mundo”.

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