Para o último dia da semana de recepção aos calouros do segundo semestre do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Centro Acadêmico Berilo Wanderley (CABW) convidou profissionais que atuam na área para contar suas respectivas trajetórias na noite dessa sexta-feira (13) no auditório do Labcom. Atalija Lima, Érika Zuza, Yuri Borges e Lucimara Rett compuseram a mesa redonda, que foi mediada pelo professor Ruy Alckmin Rocha.
Atalija Lima é jornalista formada desde 2004 pela UFRN e atualmente trabalha na rádio 89 fm. Confessa que nunca pensou em trabalhar no rádio, mas a convite aceitou. “Desde que entrei na faculdade a minha vontade era de trabalhar no meio impresso, mas como surgiu essa oportunidade legal, topei”, disse. Oportunidade não só profissional como financeira, ponto tão enfatizado por ela. “Não dá para negar que a questão salarial pesa na nossa área, na qual infelizmente se ganha pouco”.
Já Érika Zuza começou na TV Universitária (TVU), passou pelo meio impresso, fez assessoria de imprensa, já deu aula na UFRN como professora substituta e hoje é repórter da Intertv/Cabugi, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte, e faz mestrado em TV Digital em São José dos Campos-SP. Tanta versatilidade é explicada por ela numa tentativa de busca em que o jovem experimente todas as possibilidades para que encontre uma forma de se sentir mais a vontade. “O campo da comunicação oferece muitas possibilidades, e talentos tem aos montes, basta experimentar o que estiver disponível, e assim encontrar aquilo que mais gosta. No meu caso foi a TV”.
A definição daquilo que mais gosta, porém, não é o forte do jornalista Yuri Borges. Apesar de ter passado por diversos meios assim como fez Érika Zuza, ele viu vantagem em cada um. Seu primeiro estágio foi na Intertv/Cabugi como pauteiro, depois foi para o Diário de Natal, passou para uma revista e hoje é editor de conteúdo do portal Nominuto.com. Para Yuri Borges todos os meios tem o seu encanto. “A TV tem a imagem, o jornal impresso a objetividade, a revista um maior tempo para se fazer uma matéria mais aprofundada e a internet dá a instantaneidade”, disse.
Momentâneo é também o processo de comunicação. A publicitária e professora da UFRN Lucimara Rett explicou para os calouros que a comunicação era feita antes de “um para um”, passou e “um para muitos” e agora é de “muitos para muitos”, o que dá a liberdade das pessoas de criar e produzir, além da importância das redes sociais nesse processo. Lucimara somente descobriu a área da comunicação quando estava nela. Era técnica em eletrônica na TV Vanguarda de São José dos Campos-SP quando precisaram de alguém para fazer edição de vídeo, ela topou e a partir daí descobrira o que queria. Largou a Engenharia para fazer Comunicação. Trabalhou com Marketin durante 12 anos na própria TV Vanguarda, fez especialização até passar na prova de admissão da UFRN.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
As possibilidades de se fazer um jornalismo público
Professor especialista de comunicação organizacional em relações públicas deu palestra na última quarta-feira (11) no auditório da COMUNICA da UFRN sobre o desafio que a mídia terá daqui em diante com o público
Se você já teve a impressão de estar assistindo TV ou lendo um jornal e mesmo assim não se sentir inserido naquilo que está sendo dito, acredite, não é apenas um problema seu. É uma tendência que tem a mídia como principal responsável. Ela pouco despertou à cidadania e dar voz a quem não tem. Mais que isso, ao dar uma notícia não se contextualiza com o ambiente em questão e não levanta questões de interesse direto da sociedade como por exemplo o quanto o orçamento familiar pode ser comprometido com aquele sobe-desce de números na economia ou o custo e a demora daquela grande obra que o político apresenta como inconteste, e ainda fiscalizar o porquê a praça feita com tanto murmúrio está sem manutenção . Ou seja, não basta apresentar os fatos, mas indagar em que eles vão interferir na vida das pessoas.
Foi nesse contexto que o professor Paulo Celestino da Costa Filho, especialista em comunicação organizacional em Relações Públicas pela Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP), falou sobre a possibilidade de se fazer um jornalismo cada vez mais público com o advento e a liberdade que as novas tecnologias disponíveis estão dando para os cidadãos serem cada vez mais participantes na construção de civilidade, sem se desgarrar da qualidade da informação e dos princípios básicos do bom jornalismo, como: checagem, pesquisa e responsabilidade. “O Jornalismo Público e o Futuro da Informação – A nova relação entre mídias e públicos”, foi sua tese de mestrado em 2003 e mostra como surgiu, o caso brasileiro e como está sendo usado o jornalismo público.
A origem do jornalismo público – o momento norte-americano
No início da década de 1990, um grupo de jornalistas (chamados de “jornalistas conscientes”) e especialistas de algumas universidades ficaram incomodados com a crise que a mídia estava vivendo e decidiram se reunir para pensar e analisar como essas organizações estavam tratando seus conteúdos jornalísticos.
O resultado, como era esperado, mostrou uma mídia despreocupada com conteúdos a serem apresentados, deixando claro que a falta de qualidade na programação afetava o desempenho de algumas emissoras. Nos meios impressos, o pragmatismo do lide e da pirâmide invertida tirava a criatividade dos jornalistas, deixando textos cristalizados, já que as principais informações eram possíveis de serem lidas em manchetes ou em rápidas passagens pela notícia sem dar valor aos detalhes, estes que na maioria das vezes revela o que está escondido.
Com isso, declinam os números de leitores e assinantes de jornal nos EUA, fruto do interesse da população por algo diferente do habitual. O que rendeu a necessidade de se fazer um jornalismo não apenas público, como também cívico.
Motivações do jornalismo cívico
Esses pesquisadores identificaram seis tipos de crises do jornalismo. A saber:
- econômica: a baixa qualidade afetou a relação entre empresa-anunciante, já que o número de pessoas que compram jornais vem caindo.
- tecnológica: mudança de paradigma da mensagem. Passou da direção “um para muitos”, para “muitos para muitos”.
- política: a mídia mais como problema do que solução. O falso discurso da imparcialidade se faz identificar a baixa adesão política, mostrando pouco engajamento cívico.
- espiritual: dizem saber muito bem do que são contra, mas não demonstram o que são a favor. A rede de televisão CNN mostrou a primeira guerra televisionada da história (Guerra do Golfo) com excessos de abusos dos jornalistas a mostrarem apenas os momentos em que os EUA estavam vencendo a guerra, quando, na verdade, estavam perdendo.
- existencial: dúvida se nivelar a programação por baixo seria melhor forma de unificar a audiência
- intelectual: conceitos-chave clássicos do jornalismo sendo questionados, como por exemplo, “quanto mais informação melhor” e o lide.
O Jornalismo Público no Brasil
Dez anos depois de aparecer nos EUA, chega o jornalismo público no Brasil. Mas, não seguiu a cartilha norte-americana, não está conseguindo ser pública, muito menos cívico.
A razão é por vários motivos. Primeiro por conta da legislação brasileira que trata da Comunicação Social. Ela dá brechas na lei para que os horários de produção de conteúdo voltada para as comunidades sejam flexíveis. Com isso, há uma preferência pelo lado comercial durante boa parte da programação das TVs privadas. Estas que tiveram suas concessões de Rádio e TV concedidas durante a chamada “farra das concessões” a amigos políticos em todo o Brasil do então Presidente da República em 1988, José Sarney.
O outro problema é o questionamento do que são realmente as TVs públicas no Brasil. Atualmente são duas: TV Cultura e TV Brasil. A primeira, atualmente e crise e pertencente a Fundação Padre Anchieta, de São Paulo é acusada de não fazer escolhas políticas muito corretas e, assim, não ser livre no seu modelo de gestão. Já a TV Brasil, alguns dizem parecer mais um porta voz do governo do que do povo, passando a ser pública para ser estatal.
A Linguagem absorvida – as ONGs
Para exemplificar como o jornalismo público está sendo usado, peguemos o caso das ONGs. Elas estão absorvendo a linguagem jornalística para produzir conteúdos. Assim, deixam de ser meras fontes e passam a ser mediadoras. Criam sites, jornais, newsletters e algumas até fazem reportagens da própria instituição.
Novas Ecologias da Informação
Está havendo deslocamentos da produção e emissão de informação. A midiaesfera (blog e microblog) se ampliou, sendo muita gente capaz de disseminar conteúdos.
Também está havendo deslocamento da recepção. Não é mais necessário ficar na frente da TV com hora marcada para ver o que deseja. Os downloads de vídeos dão ao usuário a flexibilidade de baixar o conteúdo e vê-lo a hora que quiser.
Em qualquer tempo e lugar será possível dar o “furo”. É bem capaz que uma notícia ou fato seja dado em primeira mão por um cidadão, leitor, espectador. O desafio é achar notícias locais valiosas em um mundo que as mensagens muitas vezes são unilaterais.
Fim do Jornalismo?
Não. Apesar da tendência ser um jornalismo público/cívico/colaborativo com comprometimento do desenvolvimento local e com a realidade social, o agentes públicos e jornalistas devem atuar juntos. Até para valorização deste último, deve-se criar mecanismos de interação entre os detentores de informação,como por exemplo em forma de trocas de mensagens eletrônicas, dando voz ao cidadão reivindicar para que o jornalista vá no local conferir . Outra maneira de interação é criar espaços para a sociedade, um telejornal pode abrir um tempo diário para que as pessoas enviem fotos, vídeos e textos para serem exibidos como flagra, notícia, alerta ou convite para ir até o local para conferir de perto.
Assim nada irá se perder. O cidadão pode fazer a notícia e o jornalista pode checar, analisar e conferir a veracidade. Não existe fórmula pronta, mas deve existir comprometimento com a informação bem feita, tão perdida nesses tempos de imagens e pressa. Agora é experimentar, e muito.
Se você já teve a impressão de estar assistindo TV ou lendo um jornal e mesmo assim não se sentir inserido naquilo que está sendo dito, acredite, não é apenas um problema seu. É uma tendência que tem a mídia como principal responsável. Ela pouco despertou à cidadania e dar voz a quem não tem. Mais que isso, ao dar uma notícia não se contextualiza com o ambiente em questão e não levanta questões de interesse direto da sociedade como por exemplo o quanto o orçamento familiar pode ser comprometido com aquele sobe-desce de números na economia ou o custo e a demora daquela grande obra que o político apresenta como inconteste, e ainda fiscalizar o porquê a praça feita com tanto murmúrio está sem manutenção . Ou seja, não basta apresentar os fatos, mas indagar em que eles vão interferir na vida das pessoas.
Foi nesse contexto que o professor Paulo Celestino da Costa Filho, especialista em comunicação organizacional em Relações Públicas pela Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP), falou sobre a possibilidade de se fazer um jornalismo cada vez mais público com o advento e a liberdade que as novas tecnologias disponíveis estão dando para os cidadãos serem cada vez mais participantes na construção de civilidade, sem se desgarrar da qualidade da informação e dos princípios básicos do bom jornalismo, como: checagem, pesquisa e responsabilidade. “O Jornalismo Público e o Futuro da Informação – A nova relação entre mídias e públicos”, foi sua tese de mestrado em 2003 e mostra como surgiu, o caso brasileiro e como está sendo usado o jornalismo público.
A origem do jornalismo público – o momento norte-americano
No início da década de 1990, um grupo de jornalistas (chamados de “jornalistas conscientes”) e especialistas de algumas universidades ficaram incomodados com a crise que a mídia estava vivendo e decidiram se reunir para pensar e analisar como essas organizações estavam tratando seus conteúdos jornalísticos.
O resultado, como era esperado, mostrou uma mídia despreocupada com conteúdos a serem apresentados, deixando claro que a falta de qualidade na programação afetava o desempenho de algumas emissoras. Nos meios impressos, o pragmatismo do lide e da pirâmide invertida tirava a criatividade dos jornalistas, deixando textos cristalizados, já que as principais informações eram possíveis de serem lidas em manchetes ou em rápidas passagens pela notícia sem dar valor aos detalhes, estes que na maioria das vezes revela o que está escondido.
Com isso, declinam os números de leitores e assinantes de jornal nos EUA, fruto do interesse da população por algo diferente do habitual. O que rendeu a necessidade de se fazer um jornalismo não apenas público, como também cívico.
Motivações do jornalismo cívico
Esses pesquisadores identificaram seis tipos de crises do jornalismo. A saber:
- econômica: a baixa qualidade afetou a relação entre empresa-anunciante, já que o número de pessoas que compram jornais vem caindo.
- tecnológica: mudança de paradigma da mensagem. Passou da direção “um para muitos”, para “muitos para muitos”.
- política: a mídia mais como problema do que solução. O falso discurso da imparcialidade se faz identificar a baixa adesão política, mostrando pouco engajamento cívico.
- espiritual: dizem saber muito bem do que são contra, mas não demonstram o que são a favor. A rede de televisão CNN mostrou a primeira guerra televisionada da história (Guerra do Golfo) com excessos de abusos dos jornalistas a mostrarem apenas os momentos em que os EUA estavam vencendo a guerra, quando, na verdade, estavam perdendo.
- existencial: dúvida se nivelar a programação por baixo seria melhor forma de unificar a audiência
- intelectual: conceitos-chave clássicos do jornalismo sendo questionados, como por exemplo, “quanto mais informação melhor” e o lide.
O Jornalismo Público no Brasil
Dez anos depois de aparecer nos EUA, chega o jornalismo público no Brasil. Mas, não seguiu a cartilha norte-americana, não está conseguindo ser pública, muito menos cívico.
A razão é por vários motivos. Primeiro por conta da legislação brasileira que trata da Comunicação Social. Ela dá brechas na lei para que os horários de produção de conteúdo voltada para as comunidades sejam flexíveis. Com isso, há uma preferência pelo lado comercial durante boa parte da programação das TVs privadas. Estas que tiveram suas concessões de Rádio e TV concedidas durante a chamada “farra das concessões” a amigos políticos em todo o Brasil do então Presidente da República em 1988, José Sarney.
O outro problema é o questionamento do que são realmente as TVs públicas no Brasil. Atualmente são duas: TV Cultura e TV Brasil. A primeira, atualmente e crise e pertencente a Fundação Padre Anchieta, de São Paulo é acusada de não fazer escolhas políticas muito corretas e, assim, não ser livre no seu modelo de gestão. Já a TV Brasil, alguns dizem parecer mais um porta voz do governo do que do povo, passando a ser pública para ser estatal.
A Linguagem absorvida – as ONGs
Para exemplificar como o jornalismo público está sendo usado, peguemos o caso das ONGs. Elas estão absorvendo a linguagem jornalística para produzir conteúdos. Assim, deixam de ser meras fontes e passam a ser mediadoras. Criam sites, jornais, newsletters e algumas até fazem reportagens da própria instituição.
Novas Ecologias da Informação
Está havendo deslocamentos da produção e emissão de informação. A midiaesfera (blog e microblog) se ampliou, sendo muita gente capaz de disseminar conteúdos.
Também está havendo deslocamento da recepção. Não é mais necessário ficar na frente da TV com hora marcada para ver o que deseja. Os downloads de vídeos dão ao usuário a flexibilidade de baixar o conteúdo e vê-lo a hora que quiser.
Em qualquer tempo e lugar será possível dar o “furo”. É bem capaz que uma notícia ou fato seja dado em primeira mão por um cidadão, leitor, espectador. O desafio é achar notícias locais valiosas em um mundo que as mensagens muitas vezes são unilaterais.
Fim do Jornalismo?
Não. Apesar da tendência ser um jornalismo público/cívico/colaborativo com comprometimento do desenvolvimento local e com a realidade social, o agentes públicos e jornalistas devem atuar juntos. Até para valorização deste último, deve-se criar mecanismos de interação entre os detentores de informação,como por exemplo em forma de trocas de mensagens eletrônicas, dando voz ao cidadão reivindicar para que o jornalista vá no local conferir . Outra maneira de interação é criar espaços para a sociedade, um telejornal pode abrir um tempo diário para que as pessoas enviem fotos, vídeos e textos para serem exibidos como flagra, notícia, alerta ou convite para ir até o local para conferir de perto.
Assim nada irá se perder. O cidadão pode fazer a notícia e o jornalista pode checar, analisar e conferir a veracidade. Não existe fórmula pronta, mas deve existir comprometimento com a informação bem feita, tão perdida nesses tempos de imagens e pressa. Agora é experimentar, e muito.
domingo, 8 de agosto de 2010
Ponto para os Marqueteiros de campanha
No primeiro debate da TV aberta entre os presidenciáveis, jornalistas e espectadores visando as eleições de outubro desse ano, já era esperado um confronto morno devido a falta de propostas sólidas. A estratégia, então, foi esperar explorar os defeitos dos adversários e aperfeiçoar aquilo que lhe falta.
José Serra (PSDB) certamente foi orientado da dificuldade de Dilma Roussef (PT) diante das câmeras, e assim que tinha oportunidade atacava a petista para forçar uma resposta da adversária e a mesma se complicar na desenvoltura da réplica. Em partes, deu certo. Durante boa parte do debate vimos uma Dilma nervosa, em algumas partes gaguejando e se enrolando quando tinha que se colocar de forma clara. Depois, com o tempo, ela ficou mais tranqüila.
A estratégia da própria Dilma era de se guardar. Se expor não seria interessante, já que ela está na frente das pesquisas do Ibope. Tinha mesmo era que levar no “banho Maria” para não se complicar e falar o que não deve. Afinal, seus votos estão garantidos e fazer o inverso a faria perder seus fiéis eleitores (ou do Lula?). Como já dito, depois de se acostumar com a câmera que ela ainda não tem experiência, conseguiu ficar menos tensa.
Marina (PV), sem comentários! Nem parecia estar no lugar.
Mas quem roubou a cena foi Plínio Arruda Sampaio (Psol). Como pouco conhecido que é, tomou o lugar de Marina na despolarização do debate Serra-Dilma ao soltar piadas, apelidar Marina de Eco-capitalista e dizer que desigualdade existe até em debates. Ora, ele tinha mesmo era que aparecer. Me lembrou o velho Enéas quando disputava a presidência e falava em projeto de bomba atômica. Enfim, Plínio foi a graça do debate e conseguiu seu espaço nos próximos; no dia seguinte tinha rodas o cercando nas ruas o cumprimentando.
Estratégias a parte, todos saíram ganhando, inclusive os marqueteiros dos candidatos. Assessoraram bem seus clientes e garantiram a expectativa de discussões mais acaloradas nos próximos debates.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
A sacanagem da Globo
Nesta quinta-feira (5), acontecerá o primeiro debate entre os presidenciáveis da TV aberta brasileira, na Band, às 22hs. A expectativa para apresentação de propostas dos candidatos e seus respectivos desempenhos contra perguntas embaraçosas de diversos seguimentos da sociedade e divergências entre os adversários é garantia de boa audiência.
Mas ela não será total. Considerando que existe uma tendência da Globo querer ser exclusiva em tudo, não colocar no ar nesse dia o debate (vai ter seu dia) e, existir um grande número de brasileiros fanáticos por futebol, a emissora do plim-plim, excepcionalmente, vai transmitir a semi-final da Copa Libertadores da América entre São Paulo e Internacional, diretamente do estádio do Morumbi, em São Paulo.
O discurso da emissora de Roberto Marinho logicamente vai ser o da importância do jogo e que não poderia deixar de transmiti-lo. Mas não é bem assim. Vários jogos decisivos, da própria Libertadores, nunca foram transmitidos em dia de quinta-feira, totalmente fora da grade de programação. O que vai acontecer, mais escancarado dessa vez (as novelas já fazem um papelão todos os dias), é o de-serviço desse veículo à sociedade brasileira ao não deixar livre a concorrente radiodifusora discutir com todos, o futuro de nosso país.
Mas ela não será total. Considerando que existe uma tendência da Globo querer ser exclusiva em tudo, não colocar no ar nesse dia o debate (vai ter seu dia) e, existir um grande número de brasileiros fanáticos por futebol, a emissora do plim-plim, excepcionalmente, vai transmitir a semi-final da Copa Libertadores da América entre São Paulo e Internacional, diretamente do estádio do Morumbi, em São Paulo.
O discurso da emissora de Roberto Marinho logicamente vai ser o da importância do jogo e que não poderia deixar de transmiti-lo. Mas não é bem assim. Vários jogos decisivos, da própria Libertadores, nunca foram transmitidos em dia de quinta-feira, totalmente fora da grade de programação. O que vai acontecer, mais escancarado dessa vez (as novelas já fazem um papelão todos os dias), é o de-serviço desse veículo à sociedade brasileira ao não deixar livre a concorrente radiodifusora discutir com todos, o futuro de nosso país.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Jornal conhecido apenas pela velha guarda, desconhecido pela nova geração e, infelizmente, ignorado pela mídia
No primeiro ano de faculdade na UFRN, foi pedido a todos da turma que lessem o livro “A Arte de fazer um jornal diário”, de Ricardo Noblat, afim de que servisse de base para uma prova na disciplina de Introdução ao Jornalismo. Alem de o livro trazer muitas dicas de como realizar o ofício, na parte final há uma cronologia dos principais acontecimentos do jornalismo no Brasil e no mundo. Dentre eles, uma pequena nota que o Jornal do Brasil (JB), do Rio de Janeiro, foi o primeiro jornal impresso brasileiro a ter conteúdo também na internet, em 1996. Então pensei: “Esse deve ser um puta de um jornal, se em 96 era assim, imagina hoje. Mas porque não se fala muito nele como nos badalados Folha de São Paulo e O GLobo?”. Mal sabia que o JB já estava em declínio com uma péssima administração e conseqüente crise financeira que beirava os 800 milhões em dívidas fiscais e trabalhistas, e que um conhecimento maior sobre ele se daria, somente, com o pronunciamento oficial de que o JB a partir de primeiro de setembro desse ano atuará ironicamente apenas no mundo que tanto propagandeou quando era impresso, o virtual. Depois dessa notícia, poucos órgãos de imprensa nos apresentaram a robusta história do falecido jornal, sua importância para o país durante muito tempo e os notáveis membros que passaram por essa instituição.
História
Em meio a agitação política no nosso país, que deixava a Monarquia para ser República, Rodolfo Dantas funda o Jornal do Brasil em 1891, em defesa do regime Liberal republicano. O periódico teve como diretores de redação os abolicionistas Joaquim Nabuco e Ruy Barbosa. Em 1905, com a República já consolidada, não haveria mais o porque da coisa ser tratada como se fosse nacional e única, já que cada estado poderia escolher seu governador; então o JB passou a ter como linha editorial o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro, o que rendeu o apelido de “jornal da cidade”, esta com sua característica de carnavalesca, também deu o apelido ao JB de “jornal do carnaval” ao fazer essa cobertura da tradicional festa carioca.
A primeira crise do JB se deu ainda antes da primeira metade do século XX. Para contorná-la, o jornal cedeu a publicidade de tal forma que passou a colocar os classificados em primeira página, sendo apelidado de “jornal das cozinheiras”. Mas o salvamento mesmo, e seu apogeu se deu quando houve uma reforma em 1956, mudando o jeito de se fazer notícia. Saem os fios que separam as colunas dos textos, diminuiu o espaço dos classificados e fotografia passou a ser publicada em primeira página. Dessa forma, o JB passou a ser o jornal modelo e copiado por todos os outros entre as décadas de 1950 e 1970. Ana Arruda Callado, ex-repórter do JB, contou que os empregados gostavam dos jornais como se fossem deles.“Eu era interpelada por repórteres de todo país, ávidos por saber detalhes sobre os bastidores do jornal, o segredo era nosso romantismo”, disse. Já Ricardo Noblat, que trabalhou nas sucursais do JB em Recife e Brasília, disse que o Jornal do Brasil era uma meta que a maioria dos jornalistas fora do eixo Rio-São Paulo aspirava. “Nessa escola todos gostariam de trabalhar”, contou.
No início da Ditadura Militar, o JB ainda tinha sua independência. Sabendo do perigo, consegue informar aos leitores a dureza da censura do AI-5 com sutilezas, sem que os militares percebessem. Porem, logo depois, após de “escolhas” políticas desastrosas de seu dono, Nascimento Brito, mesmo contra a opinião de seu editor-chefe, Alberto Dines (que logo depois foi afastado por “indisciplina”), o jornal começou seu colapso. Primeiro foi se meter com os generais. Nascimento Brito apoiou o Ministro da Casa Civil de Garrastazu Médici, Leitão de Abreu, para a sucessão daquele contra Geisel. Este venceu e o dono do JB ficou “na mão” do novo presidente, com medo de perder as concessões de dois canais de TV. Então cedeu ao encanto do Ministro da Economia do Governo Geisel, Delfim Neto, que incentivou o JB a se endividar em dólar ao pegar sucessivos empréstimos para comprar novas máquinas e construir uma nova sede, uma obra faraônica na Av.Brasil para abrigar todas as marcas do grupo num momento não muito bom para a economia brasileira. Sem contar na interferência
editorial dos militares sobre o JB. Outras lamentáveis escolhas políticas do JB foi aliar-se a Maluf, Collor de Melo e, mais, recentemente, ao casal Garotinho.
A Boa Briga com O Globo
Antes e até durante boa parte da crise do JB, o Rio de Janeiro contava com, pelo menos, sete jornais de boa vendagem: O Jornal, Última Hora, Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal do Brasil, O Globo e Diário Carioca. Quando boa parte deles se foi, não estavam morrendo sozinhos, levaram o jornalismo junto, pois quanto mais possibilidades o leitor tiver de ver diferentes visões, maiores são as escolhas. Muitos jornais quer dizer democracia. Poucos é disputa pelo poder e sinônimo de povo enjaulado. "O leitor perde. É melhor uma cidade com muitos jornais do que com poucos jornais. Isso é melhor em qualquer circunstância, em qualquer lugar do mundo", advertiu Ancelmo Gois, atual colunista do JB e apresentador do programa De Lá pra Cá, da TV Brasil.
Restando apenas o JB e O Globo, o Rio de Janeiro ficou órfão dos contrastes. Mas nem tudo ainda estava perdido. Esses dois jornais travaram boas brigas por audiência que possibilitou ao carente público um novo impulso, já que a disputa era por um jornalismo de qualidade.
Nascimento Brito foi o primeiro publisher a contratar uma consultoria, a Montreal, para fazer um trabalho de reengenharia total. A empresa organizou-se, a redação organizou-se, a busca de qualidade tornou-se prioritária. Graças a isso o jornal ganhou espetacularmente os primeiros rounds no confronto com O Globo. Sem qualquer suporte de TV.
Há exatos 38 anos, O Globo publicava um editorial na primeira página assinado por Roberto Marinho intitulado "O Dia que Faltava", rompendo o acordo de décadas que deixava o domingo para os matutinos e as segundas-feiras para os vespertinos. Era a declaração formal de guerra depois de tensas e demoradas negociações entre as duas empresas mediadas pelo deputado Chagas Freitas e o banqueiro José Luís Magalhães Lins.
O derradeiro confronto jornalístico no Rio talvez tenha se travado no início dos anos 70 (ou fim dos 60) quando Roberto Marinho decidiu que O Globo não poderia ficar confinado ao esquema de vespertino e passou a circular aos domingos. Em represália, Nascimento Brito decidiu que o JB invadiria a segunda-feira. Encontro de gigantes, disputa de qualidade. Mesmo com a ditadura e a censura como pano de fundo.
A pífia cobertura da mídia
A imprensa foi fria ao comentar o fim da parte impressa do JB. Acredito que não por falta de qualidade, já que material é o que não falta e o veículo tem sua importância para o país. Foi por omissão mesmo. Salvo apenas uma boa recapitulação do Observatório da Imprensa, da TV Brasil, e uma rápida nota do Jornal do SBT da noite. No mais, parece que nada ocorreu, tem gente que nem sabe que existe ou existiu o JB. Uma parte da história do Brasil foi ignorada, agora construída por uma emissora de um Bispo e outra que dita comportamentos. Alem de deteriorar com a derradeira instituição iluminista.
A questão não é entregar uma concessão pública a um particular. Mas como geri-la. Um empresário da comunicação que não é da área, não lê jornais e os detesta, ou seja, aquele que não gosta do que faz, tem grande chance de ver seu negócio ruir. Ao contrário desse exemplo, vejamos o de Rupert Murdoch: jornalista por formação, acompanhou de perto as transformações de suas empresas de comunicação e o resultado é o sucesso de bilhões de dólares.O elefante branco do JB atropelou os escrúpulos e entregou o jornal a quem quer apenas fazer uma economia extra. Nelson Tanure anunciou o fim do Jornal do Brasil com um anúncio e aos assinantes entregou uma circular assinada por um preposto.
Não teve luto, nem luta. O jornalismo morno e sem disputa faz bem para os sobreviventes da imprensa-celebridade, que ignoram o seu ofício ao fingir um acontecimento como o fim do JB. Preferiram o medo que seus chefes impõem.
“A imprensa abdicou das emoções porque aceitou transformar-se numa indústria tão transcendental quanto uma fábrica de biscoitos” – Alberto Dines.
Quem passou pelo JB
- Os pernambucanos Joaquim Nabuco (Diretor), Barbosa Lima Sobrinho e Ricardo Noblat (Repórter)
- Ruy Barbosa (Diretor)
- Alberto Dines (Editor-Chefe)
- Carlos Drummond de Andrade (como colunista)
- Chico Caruso
- José Sarney (correspondente no Maranhão-demitido em 1962 porque só mandava despachos que o favoreciam como político)
http://jbonline.terra.com.br/ - Para quem quiser ver o JB Online
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