Cidade de Deus, Cidade dos Homens, Tropa de Elite ou qualquer filme do gênero sobre violência urbana, a figura do jornalista sempre foi tratada com desprezo no processo de informação e investigação sobre os casos. Mas no ”Tropa de Elite 2”, o papel do jornalista foi ressaltado como parte da engrenagem que monta o quebra-cabeça dos fatos cotidianos ao divulgar o que está se passando na realidade das pessoas. O filme, não sei se proposital ou não, faz uma menção as condições de trabalho que esses profissionais são submetidos. Primeiro, o perigo da cobertura policial. Depois, a questão patronal da mídia, que não se importa com o “durante” e pós reportagem, querendo apenas o processo finalizado. E por fim, a mistura perigosa que pode ser feita o jornalismo com política, que encobre fatos.
Durante o filme tem uma jornalista que se arrisca muito não só por estar no meio do combate registrando os acontecimentos, mas sobretudo, com muita competência, pelas pesquisas que realiza para mostrar o que se passa por trás daquilo tudo. A personagem Clara ,interpretada pela atriz Tainá Mueller, vai a fundo para entender como funciona a milícia, que tem participação de políticos e alguns corruptos da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro.
Como acontece nos vários veículos de comunicação, o editor manda o repórter ir à rua e volte apenas se tiver dados suficientes para escrever um texto detalhado e contextualizado, caso contrário nem publicado será. Muitos dos patrões da mídia não querem nem saber o que o repórter passou durante a apuração, quer só o resultado final e bem feito. Foi assim que a segunda versão do Tropa de Elite foi feliz ao retratar além da rotina da polícia, a dos jornalistas.
No filme, a repórter encontra pistas sobre o envolvimento da própria polícia militar e de políticos com o tráfico, ela então quer publicar o que tem em mãos na capa, mas o editor quer muito mais, quer provas, não importando para o perigo que sua funcionária poderia correr. Porem, determinada a ter uma matéria assinada na primeira página do jornal, a garota vai com o fotógrafo até uma casa na favela que contém drogas e banners com as figuras políticas que estão em coligação para a eleição seguinte e que patrocinam o tráfico. Mas para o azar, os homens chegam na casa e pegam os dois, a garota é estuprada e depois morta junto com o fotógrafo, depois carbonizados. O editor...nem aí, disse que não tinha como comprovar a morte dela por não terem achado o corpo, mesmo depois de que partir daquele dia não tê-la mais visto, e se achassem isso fazia parte do trabalho dela.
Com essa demonstração, os diretores do Tropa de Elite 2 parecem estar atentos às questões de violência que enfrentam os jornalistas. Paralela às discussões sobre o verdadeiro amigo do tráfico (os políticos e a corrupção na polícia), também levantou a bandeira da imprensa contra os abusos de seus donos e a importância desse trabalho nas investigações.Uma homenagem não só ao repórter da Globo Tim Lopes (52), morto em 2002 por traficantes ao ser visto filmando com uma câmera escondida um baile funk cheio de drogas e prostituição no Complexo do Alemão, mas a todos os profissionais Brasil afora que sofrem ou já sofreram represálias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário