quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Aperta que sai sangue
• Há algum tempo, cientistas revelaram que temos uma região no cérebro propícia para nos sentirmos atraídos a querer ver algum tipo de tragédia. Certamente já vimos um aglomerado de pessoas curiosas em volta de um corpo assassinado ou estendido por causa de um acidente de trânsito. Então parte da mídia sensacionalista, percebendo esses fatos, passou a usar, primeiramente, o tipo de noticiário com violência nos veículos impressos, logo depois na TV. E a audiência é garantida.
• O curioso desses programas é o horário. Pude perceber que em Goiânia, Recife, Salvador e Fortaleza o horário é o mesmo: entre 12:00hs-13h. Deve ser muito bom almoçar escutando belos discursos e olhando cadáveres. Outra semelhança são os apresentadores. Eles não falam, gritam,e às vezes até riem de algumas situações, casos de Batista Pereira no Programa Chumbo Grosso-GO e Cardinot no Programa Bronca Pesada-PE. Tudo em prol do bonito espetáculo.
• As semelhanças não param por aí. É que alguns deles já foram membros da polícia, casos do já citado Cardinot e de um repórter do Programa Rota 22 da TV Diário-CE. Eles fazem o tipo “exterminador de bandido”, fortes, camisa apertada e óculos escuros.
• Mas o pior caso foi visto no Pará na metade de 2009. Um apresentador desse tipo de programa ,ao lado do irmão, tinha um grupo de extermínio . Quando ocorresse algum tipo de delinqüência, o grupo ia lá e matava o infrator. Imediatamente o apresentador acionava seus repórteres para fazer a cobertura daquilo que ajudou a fazer, e lógico, com exclusividade, fazendo seu concorrente produzir algo já envelhecido. O apresentador e seu irmão foram descobertos por essas ações e estão presos.
• O caso pernambucano
• Em Pernambuco existe 2 programas sensacionalistas para TV Aberta. O famigerado Bronca Pesada – TV Jornal – afiliada do SBT – e o Ronda Geral – TV Tribuna – afiliada da Record. Como não podia ser diferente o horário desses programas que é 12:30hs e vão até 13:30hs, portanto são concorrentes. Porem parecem mais parceiros do que concorrentes, apesar de pertenceram a emissoras diferentes, é que apresentam os mesmos casos, o que muda é só o cenário e o apresentador. Mas não contente com apenas uma edição do programa, o Bronca Pesada é apresentado também de 7:00 hs, com o título de Bronca 24hs e tem como lead o discurso das principais broncas da madrugada, servindo também como propaganda para o programa de 12:30 que apresenta os detalhes. Para não ficar atrás o Ronda Geral também fez sua edição da manhã. É sangue ao acordar e ao almoçar. Sucesso garantido.
• Digo que o sucesso está garantido porque pude presenciar audiência de alguns parentes meus e de parentes de amigos. Um deles disse indignado: “eu não agüento mais ir para casa da minha vó e ter que almoçar na frente da TV assistindo Cardinot, agora eu vou para o quarto e fico lá comendo sozinho pra não ter que presenciar”.
A febre
A febre poderia ser apenas de disseminação desse tipo de programa país a fora. Seria menos ruim se fosse apenas isso. Mas há também a febre da matança, de roubo. Programas assim incentivam ainda mais novas infrações, passam a imagem de ser algo normal demais para um indivíduo fazer.
Mídia específica e irresponsável
O segmento do Jornalismo Investigativo deve sentir muita chateação por conta dos programas violentos. Apesar de se envolver em investigações policiais, não é seu o papel de escrachar com as situações. Suas tarefas são sérias, tanto que a polícia busca seu auxílio para desvendar crimes, sejam de corrupção na política e até mesmo os próprios de violência.
O que os programas específicos de violência fazem é deturpar tudo e qualquer coisa que seja séria. Usam o argumento de que mostram a realidade como ela é, que cumprem o verdadeiro papel social. Se papel social fosse só mostrar violência, todas as outras formas de contribuir com a sociedade não seriam válidas. Telejornais mostram a violência, inevitável ignorar a violência no Brasil, mas não ficam apelando ao mostrar cérebros e tripas e assim, não deixam de cumprir seu papel social.
Exemplos de conteúdo sanguífero não se restringem a impressos e TV. Jornais nas suas versões Online também mostram a sangria. O exemplo que posso dizer é o do jornal Diário de Natal, da capital potiguar. Na página inicial existe 4 tópicos principais assim que a página é aberta. Já houve vezes em que abri e os 4 tópicos eram sobre violência.
Enquanto der audiência, basta apertar o botão do controle remoto e, às vezes do mouse, para sair sangue na sua tela.
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