Por José Marques de Melo
O binômio “comunicação e desenvolvimento” foi pensado assimetricamente durante muito tempo. O desenvolvimento econômico figurava como alavanca do desenvolvimento comunicacional. Tal concepção perduraria só até o momento em que o cientista canadense Harold Innis demonstrasse que historicamente os meios de comunicação exerciam papel indutor do desenvolvimento socioeconômico.
Contudo, a legitimação dessa tese só se daria com a publicação dos resultados da pesquisa feita por Daniel Lerner em países do Oriente Médio, comprovando que o desenvolvimento socioeconômico depende basicamente da difusão de símbolos e valores “modernizantes” veiculados pelos meios de comunicação de massa.
Ancorado nessas premissas, Wilbur Schramm formulou a estratégia da “comunicação para o desenvovimento”, adotada pela Unesco e disseminada nos países subdesenvolvidos, no período pós-guerra. Nessa equação, cabia ao desenvolvimento dos meios de comunicação o papel de indutor do desenvolvimento socioeconômico, “queimando etapas” no processo de socialização cultural, na medida em que fossem convertidos em agências de educação a distância.
Coube ao economista argentino Raúl Prebisch, diretor da Cepal, equilibrar a equação, demonstrando que os dois fatores – comunicação e desenvolvimento – atuam concomitantemente, dependendo da ação indutora do Estado.
Coube também ao comunicador boliviano Luis Ramiro Beltrán o mérito de tornar viável a proposta cepalina, concebendo a doutrina das “políticas nacionais de comunicação”. Acolhido peã Comissão MacBride da Unesco, esse “pragmatismo utópico” tem sido testado desde os anos 1970, com resultados animadores.
A questão foi introduzida na agenda brasileira, já nos anos 1960, pelo economista Roberto Campos, influindo para que ela fosse assimilada pelo Estado. Sua inclusão no debate universitário foi uma iniciativa pioneira de Luiz Beltrão, que promoveu em 1965, na cidade do Recife, um seminário acadêmico sobre o tema no Instituto de Ciências da Informação da Universidade Católica de Pernambuco, em grande parte motivado pela ação desenvolvimentista da Sudene na região nordestina.
Fazer um balanço crítico do pensamento e ação contidos nessa tática de “comunicação para o desenvolvimento” constitui o propósito do Celacom 2011 – 15º colóquio Internacional da Escola Latino-americana de Comunicação, evento que a cátedra Unesco/Umesp de comunicação promove com o apoio da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, na cidade de Araraquara (SP), no período de 1º a 3 de junho de 2011.
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