O primeiro encontro aconteceu em uma festa de formatura. Rolou apenas uma paquera. Seis meses depois se encontraram na praia. Ansiedade não foi bem o sentimento de Andréia. Ela sentiu vergonha da cicatriz de 32 pontos, resultado de uma cirurgia para retirada de um tumor maligno no ovário. Eduardo garante que não olhou a marca. "Desde que nos conhecemos o que mais chamou minha atenção foi o que tínhamos em comum, como a paixão por andar de bicicleta", diz ele. Seis meses depois, estavam morando juntos, apenas um ano após as 21 sessões de quimioterapia.
Ela confessa que não esperava retomar sua vida amorosa em tão pouco tempo. "Pensava que não iria arrumar mais ninguém na minha vida. Que homem vai casar com uma mulher nova que não pode ter filhos?" A enfermeira Andréia Alves da Costa, 33, descobriu um turmor no ovário quando tinha 27 anos, considerado raríssimo na sua idade. Direta, ela perguntou ao médico quanto tempo de vida teria. E ele respondeu: "Não sei. Você pode sair daqui agora e morrer, como também pode viver muito ainda. Você está com câncer tipo 3, hiperagressivo". Da descoberta da doença até a cirurgia, que também incluiu uma histerectomia total (retirada do útero, ovários e trompas), foi pouco mais de um mês. As dolorosas sessões de quimioterapia duraram mais de um ano. Andréia passou por todas as fases do tratamento: enjoo, dores nas articulações, queda de cabelo. "De uma hora pra outra, abriu um buraco na minha vida. Eu não podia fazer mais nada, não sabia o que iria acontecer comigo amanhã", afirma. Os 55 quilos que a balança marcava quando tudo estava bem foram para 42. O namorado de um ano meio não conseguiu lidar com a doença e terminou o relacionamento logo depois da cirurgia, ainda no hospital.
Antes dos cinco anos previstos pelos médicos para atestar a cura, não é apenas a cicatriz da cirurgia que marca o corpo da enfermeira. Andréa tatuou nas costas três borboletas, que simbolizaram, para ela, liberdade em todos os sentidos, física e emocional. Desde 2008, mora com Eduardo Correia e Sá, 37. O casal tem uma vida sexual ativa, mas com algumas limitações. No ano passado, quatro anos depois do diagnóstico de CA, a enfermeira começou a sentir os primeiros sintomas da menopausa precoce, comum em mulheres submetidas à histerectomia. Antes, já sentia diferença em sua libido e a pouca lubrificação da vagina também incomodava no ato sexual. "É claro que, com 32 anos, queria ter uma vida sexual mais ativa, como era antes, mas não posso dizer que me sinto incompleta. Só é preciso caprichar mais nas preliminares e sair da mesmice, ir para um motel, por exemplo, que as coisas acontecem", relata. Ela lembra que a primeira relação depois do tratamento foi um pouco dolorosa e, claro, também sentiu medo. "Mas ele é muito carinhoso e compreensivo. O homem que desejei quando estava doente e achava que não iria encontrar."
O fato de Andréia não poder gerar filhos não é um problema na vida do casal, já que Eduardo tem duas meninas, fruto do primeiro casamento. O que mais interfere no relacionamento não tem a ver com infertilidade ou pouca libido. "Se podemos dizer que existe um problema é o medo da volta da doença e a ansiedade gerada com isso. Hoje, minha vida também depende da saúde dela. Quando está preocupada ou angustiada, isso também me atinge", desabafa Eduardo. Ou seja, como no início da paquera, quando estão na cama, nem lembram que, um dia, o câncer fez parte desta história. Se os empecilhos existem, são outros.
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