sexta-feira, 14 de maio de 2010

Nostalgia dos que fazem o bom jornalismo no Rio Grande do Norte

   
    Na tarde desta quinta-feira (13), uma mesa debates foi montada no Auditório da Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM) da UFRN. Mediado pelo professor Newton Avelino, a discussão teve a participação do professor Emanoel Barreto e do professor Marco Aurélio de Sá, todos da UFRN.

    Ao começar o debate pelo mediador, Newton Avelino iniciou questionando o porquê a não valorização das coisas da terra. “O Estado carece de uma valorização social e até acadêmica do nosso jornalismo”, disparou. Para dar um tom de comprovação nisto, Newton Avelino falou das pesquisas feitas por ele no mestrado em São Paulo a respeito da história do jornalismo do Brasil. “O Rio Grande do Norte não deve nada a qualquer outro estado do país, se existem problemas aqui, os dos outros estados são os mesmos ou até piores”, disse.

    Para exemplificar a falta de engajamento com a questão da história do jornalismo local, Newton Avelino lembrou que a faculdade de jornalismo criada em 1962 no estado por Aluizio Alves foi a primeira do Nordeste e a segunda do Brasil, a única que existia na época era a Cásper Líbero; falou ainda que a disciplina História do Jornalismo saiu da grade obrigatória da UFRN e os alunos chegam pra ele e reivindicam essa falta. Para finalizar seu discurso, Newton deixou um recado especialmente para os alunos presentes no local: “as carreiras dependem dos profissionais e a História do jornalismo serve de estudo para vocês estudantes", completou.

    Marco Aurélio de Sá, discorreu sobre sua trajetória no jornalismo. Começou a carreira na década de 1960 quando jornalismo ainda não era profissão regulamentada. Depois de escrever por hobby no Jornal Rural do colégio Marista, foi convidado a trabalhar no jornal A Ordem, da arquidiocese, época em que o jornalismo muito voltado para a bajulação política. “os jornais não serviam para o interesse público, apenas para ser complacente com causas políticas, tanto que quem se envolvia com os jornais, fazendo crônicas e colunas eram políticos que queriam se promover”, revelou Marco Aurélio.

    Marco Aurélio foi personagem de um acontecimento recorrente no jornalismo: a morte precoce de um jornal recem criado. Ao fundar o jornal Dois Pontos, se envolveu com um sócio que queria apenas fazer publicidade; logo em seguida Marco Aurélio vendeu sua parte para o sócio, e, coincidentemente o jornal faliu um ano depois. Persistente, Marco Aurélio decidiu fundar outro jornal após um ano: O Jornal de Hoje, em duas edições, manhã e tarde. Aproveitando a percepção que as notícias pela manhã já eram “envelhecidas”, Marco Aurélio criou um slogan para a edição da tarde: leia agora o que você vai ler amanhã – tendo boa venda. Marco Aurélio trabalhou ainda, por um bom tempo, no Jornal do Comércio, em Recife. Por fim, Marco Aurélio exaltou a importância da profissão que tanto ama e estimulou os estudantes a prosseguirem na batalha que ele mesmo disse ser fascinante. “Jornalismo é uma profissão de futuro, a informação é o maior bem do mundo”, disse.

    Já o professor Emanoel Barreto, é graduado pela UFRN em 1980, fez mestrado em 2004 e recentemente obteve o título de Doutor em Ciências Sociais, pela mesma universidade. Barreto tem experiência em cultura, causas sociais e jornalismo impresso, área em que trabalhou no Diário de Natal na editoria de polícia, na Tribuna do Norte com editor e no Jornal de Hoje, sendo ao todo 34 anos dedicados a profissão de jornalista. Na bancada de debates, Emanoel Barreto contou alguns casos peculiares em que foi personagem. Em 1975, ainda muito jovem, pediu emprego ao então superintendente de jornal Diário de Natal, foi insistente e passou por um processo seletivo que consistia em datilografar textos. No mesmo jornal, perdeu uma bela matéria de polícia ao não confiar na sua intuição de repórter que queria ir a Macaíba atrás do suspeito de cometera uma série de crimes no bairro de capim macio em Natal; um dia depois o rapaz foi preso, em Macaíba. “eu era muito jovem, decidi voltar a redação com o motorista e o fotógrafo , repórter também tem que ter sorte”, brincou.

    Quando Barreto era editor da Tribuna do Norte, enviou uma repórter para um hospital psiquiátrico, só que a entrada da mesma foi negada; ele desconfiando que onde se proíbe a entrada de jornalista é por ter algo errado, mandou a repórter ir de médica e de lá extraiu uma bela matéria que causou impacto na cidade; a repórter na ocasião era Josimey Costa, hoje então Superintendente de Comunicação da UFRN. Barreto disse que decidiu contar seus casos de profissão para mostrar aos presentes as situações da vida que se misturam com o ofício.

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