quinta-feira, 28 de julho de 2011

McLuhan no Brasil


Por José Marques de Melo

Equivocaram-se completamente as pitonisas que vaticinaram o eclipse intelectual de Marshal McLuhan, logo após sua morte em 1980. Os eventos que marcam o calendário intelectual de 2011, ano do centenário de seu nascimento, negam inteiramente aquela previsão funesta.

O  momento culminante das celebrações brasileiras está agendado para a cidade do Recife, em setembro próximo, durante o congresso brasileiro de ciências da comunicação, promovido pela Intercom, associação que aglutina a comunidade acadêmica da área.

Nenhum lugar mais apropriado para isso, justamente por ter sido Recife o porto de desembarque das idéias de McLuhan no Brasil. Elas chegaram ao binômio Rio-São Paulo no fim dos anos 1960, mas só prosperaram na década de 1970, quando seus livros foram traduzidos e publicados.

Quem primeiro tomou conhecimento das teses iconoclastas e dos métodos heterodoxos do pensador canadense e os difundiu no país foi Gilberto Freyre. Quando escreveu, em 1961, a introdução ao seu clássico estudo sobre o escravo nos anúncios de jornal, o solitário de Apipucos refere-se ao livro “The Mechanical Bride” (1951), que ele considera precursor da anunciologia, disciplina voltada para o estudo da propaganda na imprensa.

Entusiasmado com essa descoberta, Freyre imediatamente procurou dialogar com McLuhan. O encontro se deu em Paris, durante o colóquio para o qual ambos os escritores haviam sido convidados. Freyre revela essa interlocução no prefácio da 3ª edição do já referido livro, lançado em São Paulo quando o profeta canadense estava na crista da onda.

Assim sendo, as idéias de McLuhan circularam em Pernambuco, bem antes da sua difusão nas metrópoles nacionais. Eles eram objeto de debate acadêmico no início do curso de Jornalismo na Unicap, graças ao cosmopolitismo de Luiz Beltrão, que se mantinha atualizado sobre o pensamento contemporâneo.

Evidência disso é o ensaio que Luiz Beltrão publicou, em 1968, na revista Comunicações & Problemas, fazendo exegese não preconceituosa do livro “The Gutemberg Galaxy” (Toronto,1962) e a resenha que sua discípula Tereza Lúcia Halliday publicou em 1969 na revista Cadernos de Jornalismo e Comunicação do Jornal do Brasil.

Nesse final dos anos 1960, Marshall McLuhan e seus livros repercutiram em todo o país, pautados pelos Cadernos de Jornalismo e Comunicação, editados pelas empresas jornalísticas Bloch e JB. Tais fontes nutriam o imaginário dos jornalistas responsáveis pelas editorias de cultura da grande imprensa.

 Motivos fortuitos impediram a visita de McLuhan ao Brasil. Várias vezes tentado pelas organizações  que bancariam seus elevados cachês, esse projeto fracassou. Não veio o homem, mas ficou o mito.

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