domingo, 12 de dezembro de 2010

Enxergaram a imprensa no meio da realidade


Cidade de Deus, Cidade dos Homens, Tropa de Elite ou qualquer filme do gênero sobre violência urbana, a figura do jornalista sempre foi tratada com desprezo no processo de informação e investigação sobre os casos. Mas no ”Tropa de Elite 2”, o papel do jornalista foi ressaltado como parte da engrenagem que monta o quebra-cabeça dos fatos cotidianos ao divulgar o que está se passando na realidade das pessoas. O filme, não sei se proposital ou não, faz uma menção as condições de trabalho que esses profissionais são submetidos. Primeiro, o perigo da cobertura policial. Depois, a questão patronal da mídia, que não se importa com o “durante” e pós reportagem, querendo apenas o processo finalizado. E por fim, a mistura perigosa que pode ser feita o jornalismo com política, que encobre fatos.


Durante o filme tem uma jornalista que se arrisca muito não só por estar no meio do combate registrando os acontecimentos, mas sobretudo, com muita competência, pelas pesquisas que realiza para mostrar o que se passa por trás daquilo tudo. A personagem Clara ,interpretada pela atriz Tainá Mueller, vai a fundo para entender como funciona a milícia, que tem participação de políticos e alguns corruptos da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro.


Como acontece nos vários veículos de comunicação, o editor manda o repórter ir à rua e volte apenas se tiver dados suficientes para escrever um texto detalhado e contextualizado, caso contrário nem publicado será. Muitos dos patrões da mídia não querem nem saber o que o repórter passou durante a apuração, quer só o resultado final e bem feito. Foi assim que a segunda versão do Tropa de Elite foi feliz ao retratar além da rotina da polícia, a dos jornalistas.


No filme, a repórter encontra pistas sobre o envolvimento da própria polícia militar e de políticos com o tráfico, ela então quer publicar o que tem em mãos na capa, mas o editor quer muito mais, quer provas, não importando para o perigo que sua funcionária poderia correr. Porem, determinada a ter uma matéria assinada na primeira página do jornal, a garota vai com o fotógrafo até uma casa na favela que contém drogas e banners com as figuras políticas que estão em coligação para a eleição seguinte e que patrocinam o tráfico. Mas para o azar, os homens chegam na casa e pegam os dois, a garota é estuprada e depois morta junto com o fotógrafo, depois carbonizados. O editor...nem aí, disse que não tinha como comprovar a morte dela por não terem achado o corpo, mesmo depois de que partir daquele dia não tê-la mais visto, e se achassem isso fazia parte do trabalho dela.


Com essa demonstração, os diretores do Tropa de Elite 2  parecem estar atentos às questões de violência que enfrentam os jornalistas. Paralela às discussões sobre o verdadeiro amigo do tráfico (os políticos e a corrupção na polícia), também levantou a bandeira da imprensa contra os abusos de seus donos e a importância desse trabalho nas investigações.Uma homenagem não só ao repórter da Globo Tim Lopes (52), morto em 2002 por traficantes ao ser visto filmando com uma câmera escondida um baile funk cheio de drogas e prostituição no Complexo do Alemão, mas a todos os profissionais Brasil afora que sofrem ou já sofreram represálias.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

História da Imprensa no Brasil-Imprensa Régia E Correio Braziliense

    Segundo o historiador Nelson Werneck Sodré, o nascimento da imprensa como conhecemos hoje, só foi possível graças ao capitalismo, independente de qual parte do mundo seja. Ele comprova sua afirmativa mostrando exemplos do continente europeu, berço do capitalismo e dos Estados Unidos, onde o patriarca da imprensa no Brasil viu um espelho de como se faz liberalismo econômico.

    A massificação das idéias está intimamente ligada ao capitalismo. A máquina de prensa foi um investimento alto para poder se fazer os primeiros livros, mais notadamente a bíblia traduzida para várias línguas com a reforma protestante, que alem de tentar uma nova massificação também tinha ideais capitalistas inseridos. A partir daí a inovação de Gutemberg serviu para a confecção de livros em universidades européias.

    Mas embora essa “democratização” da idéias fossem surgindo, o intuito era burguês de dar uma nova ordem mundial, ou seja, fazer uma nova concentração baseada em seus interesses de comércio. A igreja que antes detinha o poder intelectual, viu nas novas obras uma afronta não só as suas pregações, mas sobretudo ao seu poder, por isso, livros que não faziam parte da ideologia católica eram considerados proibidos e seus seguidores como heréticos.
  

A imprensa colonial

O pecado do livro

    Na América hispânica por encontrar uma sociedade mais dinâmica de origem mineradora que a sociedade indígena e escravocrata da América portuguesa, os colonizadores trouxeram a imprensa para ao Brasil de forma atrasada. A sociedade brasileira só foi ter uma dinamicidade maior, quando também, mais tardiamente, foi descoberta a mineração. A elite brasileira da época ia concluir seus estudos na Europa e com isso traziam novas idéias de lá como o liberalismo para aquela sociedade cheia de hierarquias. Porem, apesar de maior acesso dos brasileiros a essas idéias, a estrutura rico x pobre não mudou, isso porque só os mais abastados tinham a oportunidade de ir à Europa e a burguesia queria fazer um tipo de dominação mais sutil, tipicamente capitalista, acabando com a cultura e subordinando intelectualmente os menos favorecidos.

O sacrilégio da imprensa

    A tipografia enfim chegou ao Brasil. Mas teve motivo para isso. Depois de fugir de Napoleão Bonaparte, a Família Real Portuguesa, veio se estabelecer na colônia. Então, se fez necessário ter uma tipografia para divulgar as ações governamentais para seu povo. Por isso, foi feito o jornal Gazeta do Rio de Janeiro, de preço baixo, de intensa periodicidade, intenção mais informativa do que doutrinária. Mas não havia bondade nisso, o jornal oficial não era atrativo para o público por não ter essa preocupação, não tratava com efervescência a democracia e censurava qualquer tentativa de informação com teor que não agradasse a corte.

Hipólito da Costa e o Correio Braziliense

    Três meses antes é lançado o jornal Correio Braziliense. O periódico mensal tinha a intenção de desencobrir as ações negativas da corte, como por exemplo o fechamento dos portos às outras nações para não haver comércio. Logicamente a medida prejudicava a burguesia inglesa ascendente para a qual Hipólito prestava serviço, por isso o jornal teve um papel discutível.

    Hipólito fazia matéria, editava e enviava o jornal para o Brasil, tudo isso nos 12 anos de vida do Correio Braziliense diretamente de Londres, onde foi acolhido por ser filiado à maçonaria, momento em que foi expulso de Portugal pela Igreja Católica. Em missão ainda pelo estado português, teve contato com a cultura dos Estados Unidos e ficou maravilhado,pois aquele país já havia aderido o desenvolvimento tecnológico e democrático proporcionado pelo liberalismo político e econômico.

    A ida de Hipólito aos Estados Unidos influenciou bastante sua vida como estadista e o fez ter uma visão mais elaborada do que seja o liberalismo. Juntando-se aos interesses da burguesia inglesa, entrou de vez na missão de acabar com o monopólio que Portugal tratava suas ações comerciais. Assim fundou o Correio Braziliense, que era de periodicidade longa, intenção mais doutrinária do que informativa e tinha o preço alto.

    O Correio Braziliense também não ficou livre da censura. Mas apesar do sofrimento praticado pela corte portuguesa no Brasil, o jornal era lido em Portugal e na Inglaterra, garantindo repercussão e graças ao momento oportuno de gerência ruim do governo português, preparou terreno para a emancipação política do Brasil. Obviamente tudo isso favoreceu a burguesia inglesa que queria garantir mercado para seu comércio.

    Assim, Nelson Werneck conclui que o reduzido número de veículos de imprensa, assim como na introdução, se diz respeito a não inserção do capitalismo. Foi o que aconteceu no Brasil.

A Imprensa Áulica (governamental)

    Os holandeses do séc. XVII dominaram alguns dos mais importantes espaços da colônia – o nordeste açucareiro. No entanto, segundo Werneck Sodré, mesmo introduzindo alguns elementos característicos das atividades burguesas, os holandeses não desenvolveram a imprensa, pois a economia do período não gerava as exigências necessárias à sua instalação.

    “Não convinha a Portugal que houvesse civilização no Brasil. Desejando colocar essa colônia atada a seu domínio, não queria arrancá-la das trevas da ignorância. Manter as colônias fechadas à cultura era característica própria da dominação.” (D. Francisco Manuel de Melo, apud Sodré, p.18).

    A imprensa só surgiria no Brasil, com a chegada de D. João VI (1808), e mesmo assim, por proteção e iniciativa oficial.

    O decreto de instalação da “Impressão Régia”, depois conhecida por Real Officina Typographica, Tipographia Nacional, Tipographia Imperial e Tipografia Nacional, foi de 13 de maio de 1808.

Gazeta do Rio de Janeiro

     O jornal Gazeta do Rio de Janeiro, na verdade “um jornal português editado no Rio de Janeiro”, datado de 16 de maio de 1808, era executado nas oficinas da “Impressão Régia”.

    Jornal de quatro páginas. Sua pauta incluía a publicação de atos oficiais, notícia sobre a saúde dos príncipes europeus e informações sobre a família real. Este jornal estava sob a administração portuguesa e, portanto, não falava em democracia e não fazia críticas. Não podia ir contra bons costumes do reino. As notícias revelavam um Brasil onde não havia reclamações ou queixas.

Correio Braziliense

    Impressão em Londres do almanaque “Correio Braziliense”, editado pelo
português nascido na Colônia do Sacramento, Hipólito José da Costa
Pereira Furtado de Mendonça, cujo primeiro número é datado de 1° de
Junho de 1808.

    Mensal, de 72 a 140 páginas. Falava sobrepolítica, comércio, arte, literatura e ciências. Discutia as questões que afetavam o Brasil, Portugal e Inglaterra. Pretendia atacar os defeitos da administração no Brasil, a corrupção e imoralidade e criticava os monopólios portugueses. Defendia o livre comércio com outras nações e o abolicionismo.

    O atraso da imprensa no Brasil Colônia, no entender de Werneck Sodré, tinha apenas uma explicação: “ausência de capitalismo. Para ele, só nos países onde o capitalismo se desenvolveu, a imprensa se desenvolveu.” (p.28)

    O surgimento de jornais que valorizava e engrandecia as atitudes da corte, não se resumiu a Gazeta do Rio de Janeiro. Para Werneck Sodré, esta defesa do absolutismo, demonstrava, na verdade que o mesmo já estava em declínio.


As Condições Materiais

    A última parte do texto se preocupa em analisar as condições materiais para o desenvolvimento da imprensa no Brasil. São algumas iniciativas tipográficas ou de vendas de livros, as condições são os reflexos das atitudes tomadas pela metrópole em relação à coroa: o não questionamento das estruturas portuguesas.
Até os últimos anos do Brasil – Colônia era proibido questionar:
•A religião.
•A moral portuguesa.
•A pessoa do rei.
•Perturbar a tranqüilidade pública.

    Segundo Werneck Sodré o problema da imprensa no Brasil – Colônia é, em última análise, uma questão política, pois ocorre uma postura nada ingênua da coroa portuguesa, em estabelecer a dominação sobre a sua principal colônia.


Conclusão

    A imprensa periódica brasileira tem sua origem oficial com a instalação da Imprensa régia, em 1808, logo após a vinda da família real ao Brasil. Caracterizada em sua primeira fase, pela imprensa áulica, em fins da década de 1820 já se assistia à disseminação de um grande número de títulos pelos principais centros urbanos do Império. A intensa produção de jornais era sustentada pela crença no grande potencial educativo desse tipo de impresso e, este trabalho, tem como foco a análise do jornal O Mentor das Brasileiras, impresso entre novembro de 1829 e junho de 1832 na cidade de São João del Rei, uma das principais da província de Minas Gerais no período.

    Este jornal se destaca por ser o primeiro da província declaradamente voltado para o público feminino, e provavelmente o segundo do Brasil com essa finalidade. Analisa-se a sua materialidade e a interlocução que realiza com outros textos, o que resulta num texto híbrido. Sendo assim, na sua função de educar e instruir o público feminino, acaba por proporcionar o acesso a diversos outros textos de naturezas distintas e menos acessíveis.

Comentário
“Imprensa controlada? Não!”

    Sob as pedras do autoritarismo da Inquisição e da metrópole portuguesa, o Brasil colônia mal tinha acesso a livros e a imprensa era nula. Depois da chegada a Corte Portuguesa ao Brasil, nasce a imprensa áulica para tecer louvores à família real e ao absolutismo em declínio. A única voz relevante de contraponto era o Correio Braziliense, do jornalista Hipólito da Costa, que escrevia de Londres, porque em terras brasileiras seria preso pela Coroa.

    Dois séculos depois, o PT, através de seu Goebbels, Franklin Martins, quer criar um novo aparato de imprensa áulica - como deixou claro o documento aprovado esta semana pelo diretório do partido. O documento é claro: um dos principais objetivos do governo Dilma será regulamentar a imprensa. Governo regulando o jornalismo?

    Historicamente, a imprensa brasileira sempre esteve tutelada pelo Estado. Foi assim na Era Vargas, na ditadura militar e na distribuição de canais no final dos anos de 1980. Temos vários canais de cartório. Atualmente, a imprensa brasileira é mais profissional e livre, todavia, o governo petista quer agarrá-la com os tentáculos do Estado, leia-se, partido.

    Os planos autoritários são escamoteados por termos politicamente corretos como, Plano de Direitos Humanos. Armadilha para pegar trouxa e alimentar as justificativas dos próceres da tirania. Quem comandará os tais órgãos de “controle social” da imprensa? Obviamente, o Estado, controlado pelo PT e as franjas do partido.

    Certa feita, o tal FENAJ, um sindicato ilegítimo de jornalistas alinhados ao governo petista e que não representa a totalidade da classe, propôs controle das informações passadas pelos jornalistas. Pergunto: existe ministério público para quê? Se um jornalista cometer desvios cabe aos ouvintes processá-lo ou não assisti-lo mais. E o cara que se vire com o chefe dele e com a justiça. Essa conversa de controle social da imprensa é lorota, querem controlar, intimidar e constranger jornais.

    A liberdade de imprensa é relativa no Brasil, sobretudo, nos rincões do país, onde as forças tradicionais tendem a calar a imprensa, inclusive, via violência. Agora, o governo petista quer colocar bridão na imprensa. Que os grandes empresários do meio não caiam nessa arapuca, até porque, não dá para confiar em seus editores, formados nos lamaçais esquerdistas das universidades. É no esgoto universitário que nascem os ideais inquisidores e seus prosélitos.

    É dever de todos os democratas, à custa de sangue, suor e lágrimas, se for preciso, resistir a estas propostas autoritárias. Nosso passado nos condena. O controle cartorial está na alma do Brasil, uma herança ibérica nada agradável que devemos repelir.

Nota

    Em 2008 quando se comemoravam 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil, o nome de Hipólito da Costa, patriarca do jornalismo brasileiro, foi ostensivamente omitido. Assim o jornalismo brasileiro deixou de ter um início e uma história.

    Mas no dia 5 de julho de 2010, foi promulgada a Lei 12.283 pelo então presidente em exercício, José Alencar, que Hipólito da Costa é o primeiro herói nacional do Brasil.

sábado, 27 de novembro de 2010

O intenso Centro de uma cidade


    Menos de uma hora. Esse foi o tempo necessário para ver o quanto a vida pode passar intensamente numa rua da cidade. Ainda mais quando falamos da região do Centro de Natal , mesmo quando apenas tratamos da rua Ulisses Caldas. Por causa do cruzamento com a avenida Rio Branco (maior número de lojas), o comércio ali é uma atividade facilmente visível.

    Na economia predomina a informalidade, sobrando uma lanchonete e uma loja de calçados que aparentemente, por uma maior organização e nada mais, podem sugerir legalidade. No geral, é tudo no boca a boca mesmo. Vendedor de milho, amedoim, pilha e até de cachorro foi visto naquela tarde de meio de semana. Apesar da intensidade do sol das 15h ser bem menor que o calor sufocante e característico do lugar da parte da manhã, ainda sentimos a luz nos olhos que nos faz colocar a mão na testa para enxergar alguma coisa a frente. Quentura que também incomoda o cidadão que se encontra sentado num banquinho procurando com dificuldade um livro no fundo de um dos três sebos da rua.

    Adentro no primeiro sebo onde o incomodado leitor se encontra. Pouco tempo depois logo me incomodo também, não pelo calor, mas por ficar esperando alguém me atender enquanto o dono da loja conversa com o amigo sobre as meninas mais gostosas da escola e eu procurava algum livro de jornalismo. Eram poucos os disponíveis, mas não menos interessantes que os mais novos da área. Encontrei uma relíquia rasgada na parte lateral que comemorava os 15 anos do Jornal Nacional, quando o referido jornal é um quarentão nos dias de hoje.  Há também duas prateleiras reservadas para revistas de mulher pelada. Numa delas, a capa da playboy tinha Cissa Guimarães, do ano de 1994 e continha a seguinte descrição: “A garota do Video-Show que quebra o coco e até arrebenta a Sapucaia”. No outro sebo nem fiquei muito tempo, pois havia apenas livros escolares de português e matemática para ensinos fundamental e médio, além das duas mulheres que estavam sentadas (uma elas com filho nos braços) conversando em suas cadeiras de balanço não darem a mínima para minha presença. No último sebo, o mesmo problema dos outros: falta de opção e atenção. Porem, encontro mais uma relíquia, dessa vez um livro de Pedro Bial sobre Roberto Marinho.

    De volta à rua, os personagens começam a se manifestar. Primeiro é um indigente que tenta negociar com o vendedor de milho o que tem em moedas pelo produto. Só que o mais curioso foi um senhor que tem entre 45 e 55 anos vendendo aos berros um filhote de cão não sei qual raça, mas muito bem cuidado para ser “achado por aí” ,como ele disse, ao preço de R$ 80,00. “Posso tirar uma foto?”, perguntei. Balançando a cabeça ele fez sinal de afirmativo e ainda fez pose exibindo seu troféu.

    Mas ia esquecendo que a rua Ulisses Caldas é a mesma da prefeitura de Natal. O lugar fica bem deserto no meio da tarde a ponto de ser coadjuvante em notoriedade. Deve dar essa impressão porque as pessoas da esfera pública dão por encerrado o expediente nessas horas, por decisão própria. Ao chegar ao lado do prédio, é possível ouvir mais o balanço das folhas das árvores e o canto dos pássaros do que pessoas falando, não pelo motivo de trabalharem em silêncio, mas por que não tem gente mesmo.

    Na hora de ir embora, vejo o senhor que estava vendo o filhote sai andando rapidamente de forma assustada e passa a faixa de pedestre da avenida Rio Branco mais veloz ainda. Ele carrega o bonito cão em um braço e uma caixa de papelão no outro.

Como auxílio à teoria, estudantes têm aula prática em distrito de Macau-RN


    Diante de um semestre cheio de teorias, chegou a vez da prática. Atividade esta que não poderia faltar numa disciplina não só de comunicação, já que o contato com o fato é de extrema importância para o registro e veracidade do acontecimento; mas sobretudo por estar ligada a natureza. Sendo assim, os alunos das duas turmas da disciplina Comunicação e Meio Ambiente, ministrada pelos professores Itamar Nobre e Manoel Lucas, foram passar um final de semana do início do mês foram no Distrito de Diogo Lopes em Macau-RN (181Km de Natal) para conferir de perto como funciona a salina Soledade, o encontro do rio com o mar na reserva ecológica da Ponta do Tubarão e o Parque Eólico, que tem a gerência da Petrobras.



    Partindo de Natal às 7h, o ônibus da UFRN com os alunos chegou em Macau às 10h. O grupo foi então conhecer como se fabrica o sal na salina Soledade. Segundo o instrutor, a água que vem do mar se mistura com a do mangue, passa por uma turbina que a leva para um reservatório apropriado, onde fica de molho em altas temperaturas. Estas que favorecem o extermínio de bactérias que auxiliam permanência de magnésio no sal da água, tão prejudicial ao consumo humano. A alta temperatura do lugar e os ventos favorecem a evaporação e conseqüente cristalização para formação do sal em pedra. A partir daí, o conteúdo passa por uma peneiragem para retirada de resíduos, caso os mesmos persistirem esse sal será destinado ao consumo de animais no complemento da ração. Já a parte que ficou mais elaborada, fica para o refino afim de futura estocagem e comercialização.


    Saindo da salina, o grupo foi almoçar uma comida caseira a base de peixe, que é típico do lugar, e que foi elogiada por todos. Após isso, enfim, chegaram na pousada. Mas a parada era por pouco tempo, apenas para definir onde e com quem iam ficar nos quartos, os alunos tiveram tempo somente de tomar banho e ter um descanso breve. Isso porque logo foram fazer um passeio de barco na reserva ecológica da Ponta do Tubarão. Lá puderam conhecer os hábitos dos moradores locais e a história do lugar. A reserva Ponta do Tubarão abrange os distritos vizinhos de Diogo Lopes e Barreiras, é chamado assim porque os italianos quando foram querer tomar posse do lugar acharam o desenho aéreo parecido com um tubarão. É possível notar também o encontro do rio, em seu limite, com o mar, onde muitos pescadores vão tirar seu alimento e fazer comércio do que conseguiram capturar.



    Após terem participado do passeio de barco na parte da tarde, os alunos ficaram de molho e saíram apenas para jantar, pois logo de manhã cedo partiriam de volta para Natal. Mas antes de voltar pra casa, foram ao parque Eólico que fica na saída da cidade. Mas infelizmente, pelo fato de ser um domingo, faltaram técnicos que pudessem atender aos conhecimentos esperados de funcionamento. Porem, pegando o gancho ambiental de reaproveitamento, aquele momento não poderia ser desperdiçado. Especialistas na extração de petróleo deram uma palestra aos alunos de como o processo acontece.

    Na volta para casa a sensação de que não foi apenas um final de semana. A vida pacata na pequena cidade fez o tempo parar e assim, um aprendizado para todos que o dia pode ser melhor aproveitado, principalmente quando envolver questões humanas e da natureza, que passam tão despercebidas na vida da capital.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Legal:destemido e ousado

Graças a desempenho em vídeos, jovem conseguiu votos pela internet para acompanhar de perto a Copa da África

    Carismático, determinado e desenvolto. Esta última característica deu a Anderson Reis Barbosa, o Anderson “Legal”, como é conhecido, a confiança necessária para vencer o reallity-show do canal a cabo TV Esporte Interativo em parceria com os cartões Visa.

    A promoção deu o direito ao ganhador potiguar de ir para África do Sul durante a Copa do Mundo no meio desse ano. Para atingir o objetivo do concurso, teve de cumprir o regulamento que era composto de duas fases. A primeira, de caráter estadual, foi produzir um vídeo declarando amor ao seu clube do coração, que no caso de Anderson é o ABC. Na segunda etapa, de nível nacional, um reallity show de 40 dias no Rio de Janeiro.


    Na capital fluminense, os 10 participantes brigavam por duas vagas na África e passaram por algumas provas de resistência como segurar uma bola pelo maior tempo possível, armar um bandeirão com a marca da TV Esporte Interativo no estádio do Maracanã lotado durante um jogo da Copa Libertadores entre Flamengo e Universidad Católica do Chile, bater pênalti para goleiros profissionais e pintar muros com a temática do futebol.

    Como a maioria dos programas do tipo, o “Go Brasil”, tinha exibição diária dos acontecimentos e provas em que os participantes eram sujeitos, alem, é claro, da tradicional eliminação que acontecia todas as terças-feiras. Antes disso, o programa tinha o seu “paredão”, chamado de “Na geral”, remetendo a um lugar incômodo do estádio para se assistir um jogo de futebol. Mesmo passando três vezes pela “geral”, os apelos pela internet para que os internautas votassem a seu favor para ficar fez com que Anderson ganhasse o concurso e o direito de ir à África do Sul ao lado do piauiense Xavier, segundo colocado, com tudo pago.

    O êxito na empreitada rendeu a Anderson “Legal” um contrato temporário com a TV Esporte Interativo de duração até o final da Copa do Mundo. O mesmo acontecendo com o jornal Tribuna do Norte, que assim que soube do resultado do concurso quis contar com os serviços do rapaz na atualização de um blog, o “Copa Legal”, inserindo fotos, textos e vídeos. Apesar de estar trabalhando para dois veículos, o tipo de cobertura teve linguagem e abordagem diferentes. Enquanto na TV Esporte Interativo Anderson deveria apresentar as cidades sede com sua respectiva cultura local, na Tribuna do Norte teve mais liberdade. Fazia os bastidores dos jogos, visão do torcedor e a sua própria.


    Anderson diz que gostou de todas as cidades, mas a melhor foi Porto Elizabeth, por acreditar que se identificou com o lugar. “Porto Elizabeth é bem parecida com o que nós estamos acostumados aqui no Nordeste, é litorânea, às margens do Oceano Índico, cosmopolita e tem um clima de paquera. Estava tendo um campeonato de surf que foi muito massa, sem contar que tinha muita mulher disponível”, disse.

    Legal visitou ainda as cidades de Johanesburgo, Durban e Pretória. A experiência rendeu boas histórias, como levar uma mordida de um bebê leão e assistir a todos os jogos do Brasil e alguns como França x Uruguai, Argentina x México e Itália X Gana, além de outros. Sobre as torcidas, Legal faz uma observação: “a torcida brasileira não é a mais fanática, passa longe. Os brasileiros que vão à Copa do Mundo são geralmente da elite, são empresários, pesquisadores e outros postos mais elevados. O fanatismo do nosso torcedor está no povão que vai aos jogos nos estádios brasileiros”, disse. As torcidas que o impressionaram foram da Argentina e da Holanda. “Os argentinos não paravam de cantar e os holandeses são muito calorosos, o que para mim os tornou imbatíveis nesse quesito.


    Sobre os pontos positivos e negativos do país que sediou a copa, Legal destacou alguns. Primeiro identificou o quanto o povo africano é hospitaleiro e alegre, principalmente se estiver acompanhado de música, sem contar que adoram os brasileiros. Estes eram o tempo todo presenteados com camisas, chaveiros e a maior de todas as gentilezas era colocar os brasileiros em camarotes VIPs de acesso restrito e até na concentração da seleção canarinha. Em troca, os africanos que receberam uma camisa da nossa seleção, ficaram eternamente gratos pelo presente, como se fosse o maior que podiam receber. Já o lado negativo de sua estada na África do Sul se deu com o transporte público. “Não tem linhas de ônibus como conhecemos no Brasil e metrô muito menos. A locomoção se dá em vans precárias e quem quiser ter uma rápida e confortável trajetória dentro da área urbana teria que andar de táxi, o que se torna pouco viável pelo preço absurdo que é uma corrida”. Outro problema encontrado foi a infra estrutura para internet. Não tinha muito ponto para rede sem-fio, cada um tinha que ter o seu modem, que comprando lá também era muito caro. “Internet era artigo de luxo”, disse.

    Também tiveram casos que não chegavam a ser problema, mas sim questão de adaptação. Por exemplo, com a comida. Tinha Mcdonalds em pontos isolados, mas era servido nos restaurantes a culinária local, de pratos como zebra, veado, mamute e babuíno. E por falar em animais, eles eram criados soltos em safáris e os visitantes que eram os aprisionados, caracterizando o processo inverso dos zoológicos tradicionais para que as criaturas vivessem livremente em seus hábitats naturais.

    Outra recomendação foi de tomar cuidado com os bairros pobres, como Soweto, em Johanesburgo, já que ao redor do local havia notícias de assaltos e roubos. Sem falar em perda de objetos pessoais e de trabalho da imprensa dentro até dos hotéis. “Muitos foram furtados, ouvi alguns casos conhecidos, mas não aconteceu nada com o pessoal da TV Esporte Interativo”, disse Legal. E para completar a adaptação a língua. Anderson Legal é professor de inglês no CNA e no Sesi, o que facilitou bastante a sua vida.

    Seu balanço geral da Copa foi positivo, a viu como exemplo de organização e modernidade. Aos que não puderam ir aos jogos por falta de ingressos ou simplesmente por não poder pagá-los, já que eram freqüentados basicamente pela classe-média, participavam das fun-fests organizadas em praças públicas com telões que apresentavam os jogos e shows culturais em seu intervalos. “Me impressionei com a África do Sul, são coisas de primeiro mundo, riqueza de cultura e tecnologia, o Brasil é muito atrasado e se pelo menos conseguir igualar o que foi a Copa de 2010 em 2014 já será um grande feito. Dou nota 8,5”.

    Anderson Legal agora espera deslanchar na carreira, mas vê muita dificuldade profissional, principalmente se tratando do estado do Rio Grande do Norte. “Infelizmente ter o sobrenome de algumas famílias tradicionais pesa para atuar na área. Para você ver, sou pai solteiro e ganho grana das minhas aulas de inglês, mas a comunicação é mesmo do que gosto”, disse Legal que já passou pela TV Natal, hoje TV União, fazendo reportagem para o Carnatal. Já fez reportagens de eventos no estado pela mesma TV União, e recentemente fez um jogo como repórter de campo pelo Campeonato do Nordeste pela TV Esporte Interativo.

    O objetivo mais próximo de Legal é a Copa 2014. “Natal vai ser uma das sedes e se a TVEI quiser alguma coisa por aqui, estou a disposição. Eles já me conhecem”, disse.

    Anderson é formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Potiguar (UnP) e atualmente está no 2ª período de Comunicação Social-Rádio e TV na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Público vai a Praça Cívica para ver Edgar Morin



    Educadores, sociólogos, comunicadores, estudantes de diversas áreas (que estavam em maioria), cientistas e até gente que não sabia o que estava acontecendo, presenciaram o estudioso francês Edgar Morin na Praça Cívica do Campus Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) na noite desta sexta-feira (17). E o interesse de especialistas de áreas diferentes em escutá-lo é justamente o que ele representa e ensina em suas obras: a conexão dos saberes para uma nova concepção de conhecimento que será conduzida por uma reforma na educação.

    A Conferência intitulada de “O Destino da Humanidade”, foi organizada pelo Grupo de Estudos da Complexidade da UFRN (GRECOM) – instalado por aqui no ano 2000 como primeiro ponto brasileiro da Cátedra Itinerante da UNESCO Edgar Morin CIUEM – com a missão de mostrar aos presentes que uma educação interdisciplinar pode ser a solução para enfrentar as incertezas e angústias do mundo. A intenção do professor Honoris causa da instituição potiguar é de formar um sujeito múltiplo para uma educação complexa, estabelecendo ligações entre as ciências para um saber não tão limitado a áreas específicas e assim formar um ser mais completo intelectualmente. Mas para isso, Morin enfatiza a necessidade de uma “formação do formador”, uma mudança educacional em todos os níveis para um melhor entendimento das coisas pela humanidade. “Técnica, Ciência e Economia estão muito livres e separados, há de ter um controle político e interno, principalmente da Ciência que se dividiu muito, dispersou os saberes e dificultou o conhecimento. Se alguma coisa não for feita vamos entrar num caminho sem volta!”; disse Morin ao se referir ao controle político-ideológico de muitos países do ocidente que instalaram a ignorância para conseguir o que querem.

 Sobre a Teoria da Complexidade

    A Teoria Científica da Complexidade é um ramo da ciência criado por Edgar Morin em 1970, que tem no livro “O Método” (1977) suas principais idéias divididas em seis volumes. A obra se fundamenta nas mudanças que ocorreram no século XX com o fim da bipolaridade de estadunidenses e soviéticos e da era técnica da informação. Para ele ao invés da fragmentação, propõe-se o conceito da complexidade, que é a união e diálogo dos saberes para construir uma nova consciência. E o diálogo com o futuro não para por aí: segundo Morin, a associação do passado com o futuro se dá também na forma de um pensamento complexo. “O conteúdo científico que todos sabem se tornou conhecido por uma mundialização, mas esse modelo é falho historicamente por ter ignorado regiões que poderiam contribuir e conduzir pra uma nova civilização”, disse. O pensador também acredita que um futuro menos sofrível será possível se o progresso for entendido não mais como uma lei histórica, assim os seres humanos não precisariam ficar brigando por qualquer tipo de razão.

Discursos de importância

    Estiveram também presentes na Praça Cívica, o Reitor da UFRN, Ivonildo Rêgo e a Doutora Maria da Conceição Xavier de Almeida, que é coordenadora do GRECOM e amiga pessoal de Edgar Morin. Para o Reitor a 4ª vez que o pensador visita a instituição só pode ser uma demonstração de carinho e de comprometimento com o aprendizado. “Próximo a completar 90 anos, Edgar Morin nos faz refletir até sobre essa questão, que não cansa de querer com sua intensa atividade construir um mundo melhor”, disse. Já coordenadora do GRECOM estava visivelmente emocionada por trazer uma pessoa tão importante à UFRN. “Estar aqui com a riqueza das idéias da educação e conhecedor do método que une pensamentos diferentes é uma honra para todos. A complexidade não deveria se encerrar na universidade mas sim chegar às praças”, concluiu.

Alunos e professores pró e anti-Morin

    O aluno do 6ª período do curso de História da UFRN, Márcio Gleybson Rodrigues da Silva falou como as idéias de Morin é aplicada na sua metodologia de estudo. “Morin propõe uma nova pedagogia de ensino, acabou com aquela idéia de que a História é pura e simples decoreba, é mais que isso, envolve toda uma contextualização e diálogo com o presente”, disse. Porém o mesmo elogio não é feito por alguns professores, como no caso de uma doutoranda em Ciências Sociais que não quis ter seu nome revelado. Ela fala que Edgar Morin não vê o lado social, apenas vislumbra um mundo que não existe e seus argumentos são poucos sustentáveis para solucionar as mazelas das sociedades. “Eu não gosto dele, assim como parte dos que estão aqui, mas tenho que assisti-lo porque até para criticá-lo tenho que conhecer suas idéias. Leia os setes saberes de Edgar Morin e compare com as obras de Paulo Freire que você vai entender do que estou falando. Paulo Freire é mais pé no chão e Morin tem argumentos frágeis”.


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

De experimentados aos que vão experimentar

    Para o último dia da semana de recepção aos calouros do segundo semestre do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Centro Acadêmico Berilo Wanderley (CABW) convidou profissionais que atuam na área para contar suas respectivas trajetórias na noite dessa sexta-feira (13) no auditório do Labcom. Atalija Lima, Érika Zuza, Yuri Borges e Lucimara Rett compuseram a mesa redonda, que foi mediada pelo professor Ruy Alckmin Rocha.


    Atalija Lima é jornalista formada desde 2004 pela UFRN e atualmente trabalha na rádio 89 fm. Confessa que nunca pensou em trabalhar no rádio, mas a convite aceitou. “Desde que entrei na faculdade a minha vontade era de trabalhar no meio impresso, mas como surgiu essa oportunidade legal, topei”, disse. Oportunidade não só profissional como financeira, ponto tão enfatizado por ela. “Não dá para negar que a questão salarial pesa na nossa área, na qual infelizmente se ganha pouco”.

    Já Érika Zuza começou na TV Universitária (TVU), passou pelo meio impresso, fez assessoria de imprensa, já deu aula na UFRN como professora substituta e hoje é repórter da Intertv/Cabugi, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Norte, e faz mestrado em TV Digital em São José dos Campos-SP. Tanta versatilidade é explicada por ela numa tentativa de busca em que o jovem experimente todas as possibilidades para que encontre uma forma de se sentir mais a vontade. “O campo da comunicação oferece muitas possibilidades, e talentos tem aos montes, basta experimentar o que estiver disponível, e assim encontrar aquilo que mais gosta. No meu caso foi a TV”.

    A definição daquilo que mais gosta, porém, não é o forte do jornalista Yuri Borges. Apesar de ter passado por diversos meios assim como fez Érika Zuza, ele viu vantagem em cada um. Seu primeiro estágio foi na Intertv/Cabugi como pauteiro, depois foi para o Diário de Natal, passou para uma revista e hoje é editor de conteúdo do portal Nominuto.com. Para Yuri Borges todos os meios tem o seu encanto. “A TV tem a imagem, o jornal impresso a objetividade, a revista um maior tempo para se fazer uma matéria mais aprofundada e a internet dá a instantaneidade”, disse.

    Momentâneo é também o processo de comunicação. A publicitária e professora da UFRN Lucimara Rett explicou para os calouros que a comunicação era feita antes de “um para um”, passou e “um para muitos” e agora é de “muitos para muitos”, o que dá a liberdade das pessoas de criar e produzir, além da importância das redes sociais nesse processo. Lucimara somente descobriu a área da comunicação quando estava nela. Era técnica em eletrônica na TV Vanguarda de São José dos Campos-SP quando precisaram de alguém para fazer edição de vídeo, ela topou e a partir daí descobrira o que queria. Largou a Engenharia para fazer Comunicação. Trabalhou com Marketin durante 12 anos na própria TV Vanguarda, fez especialização até passar na prova de admissão da UFRN.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

As possibilidades de se fazer um jornalismo público

Professor especialista de comunicação organizacional em relações públicas deu palestra na última quarta-feira (11) no auditório da COMUNICA da UFRN sobre o desafio que a mídia terá daqui em diante com o público


    Se você já teve a impressão de estar assistindo TV ou lendo um jornal e mesmo assim não se sentir inserido naquilo que está sendo dito, acredite, não é apenas um problema seu. É uma tendência que tem a mídia como principal responsável. Ela pouco despertou à cidadania e dar voz a quem não tem. Mais que isso, ao dar uma notícia não se contextualiza com o ambiente em questão e não levanta questões de interesse direto da sociedade como por exemplo o quanto o orçamento familiar pode ser comprometido com aquele sobe-desce de números na economia ou o custo e a demora daquela grande obra que o político apresenta como inconteste, e ainda fiscalizar o porquê a praça feita com tanto murmúrio está sem manutenção . Ou seja, não basta apresentar os fatos, mas indagar em que eles vão interferir na vida das pessoas.


    Foi nesse contexto que o professor Paulo Celestino da Costa Filho, especialista em comunicação organizacional em Relações Públicas pela Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP), falou sobre a possibilidade de se fazer um jornalismo cada vez mais público com o advento e a liberdade que as novas tecnologias disponíveis estão dando para os cidadãos serem cada vez mais participantes na construção de civilidade, sem se desgarrar da qualidade da informação e dos princípios básicos do bom jornalismo, como: checagem, pesquisa e responsabilidade. “O Jornalismo Público e o Futuro da Informação – A nova relação entre mídias e públicos”, foi sua tese de mestrado em 2003 e mostra como surgiu, o caso brasileiro e como está sendo usado o jornalismo público.

A origem do jornalismo público – o momento norte-americano

    No início da década de 1990, um grupo de jornalistas (chamados de “jornalistas conscientes”) e especialistas de algumas universidades ficaram incomodados com a crise que a mídia estava vivendo e decidiram se reunir para pensar e analisar como essas organizações estavam tratando seus conteúdos jornalísticos.

    O resultado, como era esperado, mostrou uma mídia despreocupada com conteúdos a serem apresentados, deixando claro que a falta de qualidade na programação afetava o desempenho de algumas emissoras. Nos meios impressos, o pragmatismo do lide e da pirâmide invertida tirava a criatividade dos jornalistas, deixando textos cristalizados, já que as principais informações eram possíveis de serem lidas em manchetes ou em rápidas passagens pela notícia sem dar valor aos detalhes, estes que na maioria das vezes revela o que está escondido.

    Com isso, declinam os números de leitores e assinantes de jornal nos EUA, fruto do interesse da população por algo diferente do habitual. O que rendeu a necessidade de se fazer um jornalismo não apenas público, como também cívico.

Motivações do jornalismo cívico

    Esses pesquisadores identificaram seis tipos de crises do jornalismo. A saber:

- econômica: a baixa qualidade afetou a relação entre empresa-anunciante, já que o número de pessoas que compram jornais vem caindo.

- tecnológica: mudança de paradigma da mensagem. Passou da direção “um para muitos”, para “muitos para muitos”.

- política: a mídia mais como problema do que solução. O falso discurso da imparcialidade se faz identificar a baixa adesão política, mostrando pouco engajamento cívico.

- espiritual: dizem saber muito bem do que são contra, mas não demonstram o que são a favor. A rede de televisão CNN mostrou a primeira guerra televisionada da história (Guerra do Golfo) com excessos de abusos dos jornalistas a mostrarem apenas os momentos em que os EUA estavam vencendo a guerra, quando, na verdade, estavam perdendo.

- existencial: dúvida se nivelar a programação por baixo seria melhor forma de unificar a audiência

- intelectual: conceitos-chave clássicos do jornalismo sendo questionados, como por exemplo, “quanto mais informação melhor” e o lide.

O Jornalismo Público no Brasil

    Dez anos depois de aparecer nos EUA, chega o jornalismo público no Brasil. Mas, não seguiu a cartilha norte-americana, não está conseguindo ser pública, muito menos cívico.

    A razão é por vários motivos. Primeiro por conta da legislação brasileira que trata da Comunicação Social. Ela dá brechas na lei para que os horários de produção de conteúdo voltada para as comunidades sejam flexíveis. Com isso, há uma preferência pelo lado comercial durante boa parte da programação das TVs privadas. Estas que tiveram suas concessões de Rádio e TV concedidas durante a chamada “farra das concessões” a amigos políticos em todo o Brasil do então Presidente da República em 1988, José Sarney.

    O outro problema é o questionamento do que são realmente as TVs públicas no Brasil. Atualmente são duas: TV Cultura e TV Brasil. A primeira, atualmente e crise e pertencente a Fundação Padre Anchieta, de São Paulo é acusada de não fazer escolhas políticas muito corretas e, assim, não ser livre no seu modelo de gestão. Já a TV Brasil, alguns dizem parecer mais um porta voz do governo do que do povo, passando a ser pública para ser estatal.

A Linguagem absorvida – as ONGs

    Para exemplificar como o jornalismo público está sendo usado, peguemos o caso das ONGs. Elas estão absorvendo a linguagem jornalística para produzir conteúdos. Assim, deixam de ser meras fontes e passam a ser mediadoras. Criam sites, jornais, newsletters e algumas até fazem reportagens da própria instituição.

Novas Ecologias da Informação

    Está havendo deslocamentos da produção e emissão de informação. A midiaesfera (blog e microblog) se ampliou, sendo muita gente capaz de disseminar conteúdos.

    Também está havendo deslocamento da recepção. Não é mais necessário ficar na frente da TV com hora marcada para ver o que deseja. Os downloads de vídeos dão ao usuário a flexibilidade de baixar o conteúdo e vê-lo a hora que quiser.

    Em qualquer tempo e lugar será possível dar o “furo”. É bem capaz que uma notícia ou fato seja dado em primeira mão por um cidadão, leitor, espectador. O desafio é achar notícias locais valiosas em um mundo que as mensagens muitas vezes são unilaterais.

Fim do Jornalismo?

    Não. Apesar da tendência ser um jornalismo público/cívico/colaborativo com comprometimento do desenvolvimento local e com a realidade social, o agentes públicos e jornalistas devem atuar juntos. Até para valorização deste último, deve-se criar mecanismos de interação entre os detentores de informação,como por exemplo em forma de trocas de mensagens eletrônicas, dando voz ao cidadão reivindicar para que o jornalista vá no local conferir . Outra maneira de interação é criar espaços para a sociedade, um telejornal pode abrir um tempo diário para que as pessoas enviem fotos, vídeos e textos para serem exibidos como flagra, notícia, alerta ou convite para ir até o local para conferir de perto.

    Assim nada irá se perder. O cidadão pode fazer a notícia e o jornalista pode checar, analisar e conferir a veracidade. Não existe fórmula pronta, mas deve existir comprometimento com a informação bem feita, tão perdida nesses tempos de imagens e pressa. Agora é experimentar, e muito.

domingo, 8 de agosto de 2010

Ponto para os Marqueteiros de campanha





    No primeiro debate da TV aberta entre os presidenciáveis, jornalistas e espectadores visando as eleições de outubro desse ano, já era esperado um confronto morno devido a falta de propostas sólidas. A estratégia, então, foi esperar explorar os defeitos dos adversários e aperfeiçoar aquilo que lhe falta.



    José Serra (PSDB) certamente foi orientado da dificuldade de Dilma Roussef (PT) diante das câmeras, e assim que tinha oportunidade atacava a petista para forçar uma resposta da adversária e a mesma se complicar na desenvoltura da réplica. Em partes, deu certo. Durante boa parte do debate vimos uma Dilma nervosa, em algumas partes gaguejando e se enrolando quando tinha que se colocar de forma clara. Depois, com o tempo, ela ficou mais tranqüila.


    A estratégia da própria Dilma era de se guardar. Se expor não seria interessante, já que ela está na frente das pesquisas do Ibope. Tinha mesmo era que levar no “banho Maria” para não se complicar e falar o que não deve. Afinal, seus votos estão garantidos e fazer o inverso a faria perder seus fiéis eleitores (ou do Lula?). Como já dito, depois de se acostumar com a câmera que ela ainda não tem experiência, conseguiu ficar menos tensa.

Marina (PV), sem comentários! Nem parecia estar no lugar.


    Mas quem roubou a cena foi Plínio Arruda Sampaio (Psol). Como pouco conhecido que é, tomou o lugar de Marina na despolarização do debate Serra-Dilma ao soltar piadas, apelidar Marina de Eco-capitalista e dizer que desigualdade existe até em debates. Ora, ele tinha mesmo era que aparecer. Me lembrou o velho Enéas quando disputava a presidência e falava em projeto de bomba atômica. Enfim, Plínio foi a graça do debate e conseguiu seu espaço nos próximos; no dia seguinte tinha rodas o cercando nas ruas o cumprimentando.


    Estratégias a parte, todos saíram ganhando, inclusive os marqueteiros dos candidatos. Assessoraram bem seus clientes e garantiram a expectativa de discussões mais acaloradas nos próximos debates.