sábado, 27 de novembro de 2010

O intenso Centro de uma cidade


    Menos de uma hora. Esse foi o tempo necessário para ver o quanto a vida pode passar intensamente numa rua da cidade. Ainda mais quando falamos da região do Centro de Natal , mesmo quando apenas tratamos da rua Ulisses Caldas. Por causa do cruzamento com a avenida Rio Branco (maior número de lojas), o comércio ali é uma atividade facilmente visível.

    Na economia predomina a informalidade, sobrando uma lanchonete e uma loja de calçados que aparentemente, por uma maior organização e nada mais, podem sugerir legalidade. No geral, é tudo no boca a boca mesmo. Vendedor de milho, amedoim, pilha e até de cachorro foi visto naquela tarde de meio de semana. Apesar da intensidade do sol das 15h ser bem menor que o calor sufocante e característico do lugar da parte da manhã, ainda sentimos a luz nos olhos que nos faz colocar a mão na testa para enxergar alguma coisa a frente. Quentura que também incomoda o cidadão que se encontra sentado num banquinho procurando com dificuldade um livro no fundo de um dos três sebos da rua.

    Adentro no primeiro sebo onde o incomodado leitor se encontra. Pouco tempo depois logo me incomodo também, não pelo calor, mas por ficar esperando alguém me atender enquanto o dono da loja conversa com o amigo sobre as meninas mais gostosas da escola e eu procurava algum livro de jornalismo. Eram poucos os disponíveis, mas não menos interessantes que os mais novos da área. Encontrei uma relíquia rasgada na parte lateral que comemorava os 15 anos do Jornal Nacional, quando o referido jornal é um quarentão nos dias de hoje.  Há também duas prateleiras reservadas para revistas de mulher pelada. Numa delas, a capa da playboy tinha Cissa Guimarães, do ano de 1994 e continha a seguinte descrição: “A garota do Video-Show que quebra o coco e até arrebenta a Sapucaia”. No outro sebo nem fiquei muito tempo, pois havia apenas livros escolares de português e matemática para ensinos fundamental e médio, além das duas mulheres que estavam sentadas (uma elas com filho nos braços) conversando em suas cadeiras de balanço não darem a mínima para minha presença. No último sebo, o mesmo problema dos outros: falta de opção e atenção. Porem, encontro mais uma relíquia, dessa vez um livro de Pedro Bial sobre Roberto Marinho.

    De volta à rua, os personagens começam a se manifestar. Primeiro é um indigente que tenta negociar com o vendedor de milho o que tem em moedas pelo produto. Só que o mais curioso foi um senhor que tem entre 45 e 55 anos vendendo aos berros um filhote de cão não sei qual raça, mas muito bem cuidado para ser “achado por aí” ,como ele disse, ao preço de R$ 80,00. “Posso tirar uma foto?”, perguntei. Balançando a cabeça ele fez sinal de afirmativo e ainda fez pose exibindo seu troféu.

    Mas ia esquecendo que a rua Ulisses Caldas é a mesma da prefeitura de Natal. O lugar fica bem deserto no meio da tarde a ponto de ser coadjuvante em notoriedade. Deve dar essa impressão porque as pessoas da esfera pública dão por encerrado o expediente nessas horas, por decisão própria. Ao chegar ao lado do prédio, é possível ouvir mais o balanço das folhas das árvores e o canto dos pássaros do que pessoas falando, não pelo motivo de trabalharem em silêncio, mas por que não tem gente mesmo.

    Na hora de ir embora, vejo o senhor que estava vendo o filhote sai andando rapidamente de forma assustada e passa a faixa de pedestre da avenida Rio Branco mais veloz ainda. Ele carrega o bonito cão em um braço e uma caixa de papelão no outro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário