No dia 5 de novembro de 1957, o Sport cometeu o maior erro
da sua história. Num desses lances que só acontecem uma vez na vida, o Leão
teve a oportunidade de contar com o reforço de ninguém menos do que Pelé,
oferecido pelo Santos ao então diretor José Rosemblit. Para infelicidade geral
da torcida rubro-negra, o clube rejeitou a proposta. O argumento da época foi
que o garoto, com 17 anos, era novo e desconhecido. Durante muitos anos esse
fato foi questionado e estava fadado a entrar para a posteridade como mais uma
lenda do futebol.
Mas agora, 42 anos depois, os incrédulos terão que se curvar
às evidências. A reportagem do DIARIO teve acesso a um telegrama, que se
julgava perdido ou inexistente, comprovando o oferecimento de Pelé ao
rubro-negro pernambucano. A relíquia estava guardada a sete chaves pela família
Menezes, a mesma de Ademir, artilheiro da Copa de 50.
Adamir, primo do Queixada, foi quem intermediou a
negociação. Por isso, ele acabou ficando com o documento. "Papai era
representante comercial e tinha muitos contatos com os clubes de São Paulo.
Conversando com o presidente do Santos, ele pediu alguns reforços para o Sport.
O telegrama foi a resposta a esse pedido", explica Ronald Menezes.
Com a morte de Adamir, a guarda do precioso telegrama ficou
com sua esposa, dona Elza Menezes, e com os cinco filhos do casal, todos
rubro-negros doentes, de carteirinha. "Nós sabíamos que, algum dia,
iríamos dar esse documento histórico de presente ao Sport. Por isso, guardamos
com tanto carinho", falou Adamir Júnior, o mais novo do clã dos Menezes.
Os Menezes guardaram o telegrama com tanto cuidado que a
história quase cai no esquecimento. Segundo dona Elza, nem o próprio Pelé sabe
da existência do documento. "Sempre quando vinha ao Recife, acompanhando a
equipe do Santos, Pelé passava em nossa casa. Lembro que a rua ficava cheia.
Mas eu nunca mostrei o telegrama a ele e acredito que meu marido também
não".
Apesar da vontade da família em repassar o telegrama ao
Sport, a oportunidade só surgiu por acaso,num churrasco, semana passada. Os irmãos
Menezes encontraram o diretor de Futebol do clube, Fernando Lima. No meio da
conversa surgiu o assunto. Fernando não perdeu tempo e confiscou o documento
para o museu rubro-negro. "Vamos fazer uma grande homenagem a esta família
para agradecer a doação", avisou o dirigente.
AZAR - Mais do que incompetência dos dirigentes rubro-negros
da época, o desinteresse por Pelé parece ter sido pura falta de sorte.
"Ninguém tem bola de cristal. Naquele tempo, o intercâmbio entre os clubes
era muito pequeno. Não existia televisão transmitindo os jogos ao vivo como
hoje. Ninguém poderia imaginar que um garoto desconhecido poderia se tornar o
que se tornou", argumentou Rômulo Menezes.
Fernando Lima, que hoje é um dos responsáveis pelas
contratações do Sport, também absolve Rosemblit e Adelmar Costa Carvalho,
presidente do clube em 57, de qualquer culpa. "Eles não poderiam prever o
futuro". Mas Modesto Roma, presidente do Santos na ocasião, já previa o
potencial de Pelé. Tanto é que a negociação seria por empréstimo e por apenas
quatro meses. A transação, do ponto de vista santista, era apenas para dar
experiência ao atleta, que naquele momento era reserva de Pagão.
Junto com Pelé, e até com mais destaque, o Peixe também
oferecia Ciro. Se na época do episódio ele era mais conhecido do que o Rei,
passou para história apenas como coadjuvante. A reportagem do DIARIO passou os
últimos quatro dias tentando localizá-lo e não encontrou nenhuma pista.
Enquanto Ciro mergulhava no anonimato, Pelé começava a
ganhar projeção nacional. A convocação para a Seleção Brasileira não demorou e,
sete meses depois, conquistava a Copa do Mundo. Estava iniciada a trajetória
que o levaria ao título de Atleta do Século.
DESTINO - Mas será que a história seria a mesma se o Sport
resolvesse ficar com o camisa 10 ? "Isso ninguém jamais vai saber",
responde Romildo Menezes. Muito provavelmente, Pelé não seria convocado para a
Seleção campeã mundial na Suécia. Talvez a Seleção nem fosse campeã. E se ele
fosseconvocado, o Rei iria atuar ao lado de Vavá que, esse sim, jogou no
rubro-negro pernambucano.
Agora, para o Sport as coisas poderiam mudar muito. Talvez o
Leão fosse campeão estadual, acrescentando mais uma estrela as suas conquistas
e, de quebra, tirando o título de supercampeão, em 57, do rival Santa Cruz.
Chato seria para os torcedores dos times adversários terem que aguentar os
rubro-negros se gabando do fato do Rei do Futebol já ter vestido o manto
rubro-negro.
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