segunda-feira, 31 de maio de 2010

A reforma do tamanho do jornal

    A coragem de se fazer uma reformulação num meio impresso, este que é alvo de discussão sobre seu fim ao dar espaço à tecnologia, soa como acreditável a função que exerce uma apuração detalhadamente responsável e de qualidade no Jornalismo. Com esse intuito, a Folha de São Paulo iniciou no domingo (24) sua mais nova reforma editorial e gráfica, que é realizada a cada 6 anos desde o início da década de 1980. A nova reforma da Folha busca entender as necessidades dos leitores contemporâneos, prometendo um jornal sintético e analítico, ou seja, sem textos densos e privilegiando imagens que “falam”, e, textos contextualizados e interpretados que aproximem a matéria da vida do leitor para que ele não se sinta tão distante do fato.




    A maior mudança é a reforma editorial. Depois de unir as redações do impresso com o online no mês de abril (primeiro veículo de comunicação a fazer isso no país), alguns cadernos surgiram e outros mudaram de nome, alem de ganharem novos colunistas. Novos, novíssimos. Um deles é João Montanaro de apenas 14 anos, ele levará traços de seu cartum sempre aos sábados fazendo charge política na página 2 do jornal, que já foi de Glauco (1957-2010) e no caderno folhinha a cada 15 dias. A trajetória do garoto começou cedo, quando tinha 6 anos João Montanaro começou a desenhar o Bob Esponja que via na TV e procurou se aconselhar com profissionais da área. Ele adiantou o que os leitores da Folha podem esperar. “podem esperar um desenho sujo, do jeito que a política brasileira é”.


Novo na forma – um tablóide


    A editoria de Esportes ganhará um novo espaço no jornal. Ela se apresentará em separado, como um segundo jornal, em forma de tablóide (cada página mede aproximadamente a metade do tamanho de um jornal standard (ou seja, cerca de 37,5cm x 60cm), as notícias são tratadas num formato mais curto e o número de ilustrações costuma ser maior do que o dos diários de formato tradicional.). Este será bem visual, com muitas fotos, valorizando as belas imagens que o esporte produz; alem de ter um texto também mais dinâmico, o que vai representar um desafio para o jornal que quer aliar o que já tem de bom, como investigação dos dirigentes esportivos nos bastidores, com textos mais vibrantes e despojados. Novidade também é na especialidade futebol. Durante as partidas será mostrado todo desenvolvimento tático de acordo com as variações do jogo, alem de fichas técnicas e resumos já característicos. E por falar em característica, o humor fará parte do tablóide de Esportes da Folha. O personagem de Caco Galhardo, Chico Bacon, quer ir à Copa de todo jeito, e contará sua saga diariamente de como conseguir seu objetivo. Às terças-feiras, uma nova coluna, "Los Gringos", trará textos de jornalistas estrangeiros, que ajudarão o leitor brasileiro a entender o que acontece nos principais centros do futebol mundial. Aos sábados, uma nova coluna será assinada pela jornalista portuguesa Rita Siza, que é correspondente em Washington do jornal lusitano "Público". Esses novos colunistas se juntarão aos “velhos” conhecidos colunistas de futebol da Folha Tostão, Juca Kfouri, Paulo Vinicius Coelho, José Geraldo Couto e Xico Sá.


Eles mudaram de nome


    O caderno “Brasil” agora se chama “Poder”, porem os temas abordados se manterão, com coberturas do poder Executivo, Legislativo e Judiciário, seja assuntos ligados a religião, movimentos sociais e sociedade civil. As eleições desse ano, por exemplo, fugirá do senso comum de apenas mostrar os candidatos e seus discursos, pois serão analisados de acordo com as promessas de cada um, o“promessômetro” e o “mentirômetro” serão colocados para avaliar e medir as imprecisões dos discursos políticos. "A cobertura será mais voltada à análise dos discursos dos candidatos, antecipando estratégias, esmiuçando propostas e verificando sua viabilidade e haverá menos espaço para a reprodução pura das declarações dos candidatos”, disse Vera Magalhães, editora de Poder. Já a nova colunista da editoria, a global Fernanda Torres, se juntará a Kennedy Alencar, Gilberto Dimenstein e Eliane Gantanhêde no caderno.

    O Mais!, que circulou durante 18 anos, dará lugar ao Ilustríssima. Este novo caderno falará sobre Ciência e Cultura numa linguagem entendível, sempre aos domingos. Textos de ficção, poesia, dramaturgia, ensaios, cartum e quadrinhos também vão compor o cardápio semanal acerca dos dois principais assuntos. Na área de ciência, o repórter especial Marcelo Leite fará resenhas e reportagens. Na área de cultura será dada oportunidade a experimentação visual e Contará com a participação de artistas plásticos, especialmente convidados.O artista J. Miguel faz a xilogravura para a reportagem de capa. E Marina Rheingantz, destaque da nova geração de pintores brasileiros, ilustra a contracapa e páginas internas do caderno. A cada semana a Ilustríssima trará na sua contracapa um texto inédito de prosa, poesia ou dramaturgia. A Ilustríssima terá três outras seções semanais. Uma delas, na página 2, é a "Ilustríssima Semana", com indicações de livros, filmes, exposições, entre outros campos da cultura. A seção "Arquivo Aberto", que estreia com um depoimento da escritora Lygia Fagundes Telles, trará toda semana um relato de um grande artista, cientista ou intelectual, produzido a partir de uma peça de seu arquivo pessoal, como fotos, documentos, recortes etc. A Ilustríssima é editada pelo jornalista e tradutor Paulo Werneck, 32, que já trabalhou na Companhia das Letras e na Cosac Naify. A jornalista Izabela Moi é a editora-assistente do caderno. O projeto gráfico foi feito pelas designers Renata Buono e Laura Salaberry.

    O caderno de “Economia” foi rebatizado de “Mercado”. Este vai tentar utilizar palavras simples contra os velhos jargões do “economês”, para dar maior entendimento ao leitor. O Presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e do Banco Santander no Brasil, Fábio Barbosa, e a especialista em finanças, Márcia Dessen, serão os novos colunistas da editoria e se juntarão a Fernando Canzian, Vinicius Torres Freire, Valdo Cruz e Maria Inês Dolci.


Caderno novo – uma revista


    Ainda há um novo caderno. Ou melhor, revista. A Revista São Paulo vai trazer aos domingos o melhor das atrações culturais que a capital paulista tem a oferecer. O desafio principal é trazer um novo olhar sobre a metrópole e buscar organizar para o leitor as diversas opções de lazer e cultura. As reportagens tratarão de temas variados, como urbanismo, arquitetura, consumo, poluição e trânsito. A jornalista Adriana Küchler assinará uma coluna social semanal, com tendências e personagens da cena paulistana. Entre os colunistas, Barbara Gancia se revezará quinzenalmente com o romancista e poeta Fabrício Corsaletti. E o crítico de gastronomia da Folha, Josimar Melo, relatará suas experiências pelos restaurantes paulistanos. O roteiro de cultura e lazer inclui a programação completa de cinema, além de teatro, música, exposições, dança, passeios, restaurantes e bares. "São pelo menos 250 opções de programa em uma seleção que garimpa as melhores atrações da semana", diz o editor-assistente Roberto de Oliveira. A revista vai circular na Grande São Paulo, mas assinantes de outras regiões poderão consultá-la em sua versão digital. Com projeto gráfico da designer Lillian Kim, a sãopaulo integra o Núcleo de Revistas da Folha, dirigido pela jornalista Cleusa Turra, e se soma à mensal Serafina, ao semanal Guia Folha, e às revistas especiais. A Revista São Paulo será lançado no 1ª domingo de junho.


Reforma visual


    Já a reforma visual começa na forma das letras. Elas estão 12% maiores e destacadas em negrito para mostrar a relevância dada pelo jornal sobre um assunto. Agora a partir da reforma, a diagramação tornará a leitura mais fácil. Antes as matérias pareciam sem hierarquia, isso porque, de forma inteligente e ideologicamente, elas eram colocadas dispostas de acordo com a nossa visão (se lê da esquerda para a direita e de cima para baixo, semioticamente), então as matérias, sem percebermos, eram colocadas nessa ordem de importância. A outra reforma visual é com as fotografias. Elas vão ter um tamanho maior e serão mais claras, capazes de ser redigidas em texto com o seu visual esclarecedor.


Os desconfiados


    Alguns blogueiros vêem com desconfiança a reforma editorial. Para eles, o discurso analítico de contextualizar e analisar os fatos não fará a Folha se despir da ideologia tucana.

    Outros já dizem que esse contexto todo do noticiário será apenas capaz de situar o leitor, o que não é de todo ruim. E que o ideal mesmo é analisar ceticamente o que está sendo dito.


Jornal do Futuro


    Jornal do Futuro. Esse é o slogan da nova Folha de São Paulo. Diante da dificuldade de mediação eficaz devido a loucura da informação em diversos meios de comunicação, a reforma feita é a mais complexa da Folha até agora. Se vai dar certo não se sabe, mas é consenso que em breve muitos veículos impressos do país irão copiar o jeito Folha de fazer jornal diário, já que sempre fizeram isso nas outras reformas do maior jornal em circulação do país.

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