segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Jornal conhecido apenas pela velha guarda, desconhecido pela nova geração e, infelizmente, ignorado pela mídia


                             


             


    No primeiro ano de faculdade na UFRN, foi pedido a todos da turma que lessem o livro “A Arte de fazer um jornal diário”, de Ricardo Noblat, afim de que servisse de base para uma prova na disciplina de Introdução ao Jornalismo. Alem de o livro trazer muitas dicas de como realizar o ofício, na parte final há uma cronologia dos principais acontecimentos do jornalismo no Brasil e no mundo. Dentre eles, uma pequena nota que o Jornal do Brasil (JB), do Rio de Janeiro, foi o primeiro jornal impresso brasileiro a ter conteúdo também na internet, em 1996. Então pensei: “Esse deve ser um puta de um jornal, se em 96 era assim, imagina hoje. Mas porque não se fala muito nele como nos badalados Folha de São Paulo e O GLobo?”. Mal sabia que o JB já estava em declínio com uma péssima administração e conseqüente crise financeira que beirava os 800 milhões em dívidas fiscais e trabalhistas, e que um conhecimento maior sobre ele se daria, somente, com o pronunciamento oficial de que o JB a partir de primeiro de setembro desse ano atuará ironicamente apenas no mundo que tanto propagandeou quando era impresso, o virtual. Depois dessa notícia, poucos órgãos de imprensa nos apresentaram a robusta história do falecido jornal, sua importância para o país durante muito tempo e os notáveis membros que passaram por essa instituição.


História


                        
    Em meio a agitação política no nosso país, que deixava a Monarquia para ser República, Rodolfo Dantas funda o Jornal do Brasil em 1891, em defesa do regime Liberal republicano. O periódico teve como diretores de redação os abolicionistas Joaquim Nabuco e Ruy Barbosa. Em 1905, com a República já consolidada, não haveria mais o porque da coisa ser tratada como se fosse nacional e única, já que cada estado poderia escolher seu governador; então o JB passou a ter como linha editorial o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro, o que rendeu o apelido de “jornal da cidade”, esta com sua característica de carnavalesca, também deu o apelido ao JB de “jornal do carnaval” ao fazer essa cobertura da tradicional festa carioca.



    A primeira crise do JB se deu ainda antes da primeira metade do século XX. Para contorná-la, o jornal cedeu a publicidade de tal forma que passou a colocar os classificados em primeira página, sendo apelidado de “jornal das cozinheiras”. Mas o salvamento mesmo, e seu apogeu se deu quando houve uma reforma em 1956, mudando o jeito de se fazer notícia. Saem os fios que separam as colunas dos textos, diminuiu o espaço dos classificados e fotografia passou a ser publicada em primeira página. Dessa forma, o JB passou a ser o jornal modelo e copiado por todos os outros entre as décadas de 1950 e 1970. Ana Arruda Callado, ex-repórter do JB, contou que os empregados gostavam dos jornais como se fossem deles.“Eu era interpelada por repórteres de todo país, ávidos por saber detalhes sobre os bastidores do jornal, o segredo era nosso romantismo”, disse. Já Ricardo Noblat, que trabalhou nas sucursais do JB em Recife e Brasília, disse que o Jornal do Brasil era uma meta que a maioria dos jornalistas fora do eixo Rio-São Paulo aspirava. “Nessa escola todos gostariam de trabalhar”, contou.


                       
No início da Ditadura Militar, o JB ainda tinha sua independência. Sabendo do perigo, consegue informar aos leitores a dureza da censura do AI-5 com sutilezas, sem que os militares percebessem. Porem, logo depois, após de “escolhas” políticas desastrosas de seu dono, Nascimento Brito, mesmo contra a opinião de seu editor-chefe, Alberto Dines (que logo depois foi afastado por “indisciplina”), o jornal começou seu colapso. Primeiro foi se meter com os generais. Nascimento Brito apoiou o Ministro da Casa Civil de Garrastazu Médici, Leitão de Abreu, para a sucessão daquele contra Geisel. Este venceu e o dono do JB ficou “na mão” do novo presidente, com medo de perder as concessões de dois canais de TV. Então cedeu ao encanto do Ministro da Economia do Governo Geisel, Delfim Neto, que incentivou o JB a se endividar em dólar ao pegar sucessivos empréstimos para comprar novas máquinas e construir uma nova sede, uma obra faraônica na Av.Brasil para abrigar todas as marcas do grupo num momento não muito bom para a economia brasileira. Sem contar na interferência
editorial dos militares sobre o JB. Outras lamentáveis escolhas políticas do JB foi aliar-se a Maluf, Collor de Melo e, mais, recentemente, ao casal Garotinho.

A Boa Briga com O Globo


    Antes e até durante boa parte da crise do JB, o Rio de Janeiro contava com, pelo menos, sete jornais de boa vendagem: O Jornal, Última Hora, Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal do Brasil, O Globo e Diário Carioca. Quando boa parte deles se foi, não estavam morrendo sozinhos, levaram o jornalismo junto, pois quanto mais possibilidades o leitor tiver de ver diferentes visões, maiores são as escolhas. Muitos jornais quer dizer democracia. Poucos é disputa pelo poder e sinônimo de povo enjaulado. "O leitor perde. É melhor uma cidade com muitos jornais do que com poucos jornais. Isso é melhor em qualquer circunstância, em qualquer lugar do mundo", advertiu Ancelmo Gois, atual colunista do JB e apresentador do programa De Lá pra Cá, da TV Brasil.


            


    Restando apenas o JB e O Globo, o Rio de Janeiro ficou órfão dos contrastes. Mas nem tudo ainda estava perdido. Esses dois jornais travaram boas brigas por audiência que possibilitou ao carente público um novo impulso, já que a disputa era por um jornalismo de qualidade.

    Nascimento Brito foi o primeiro publisher a contratar uma consultoria, a Montreal, para fazer um trabalho de reengenharia total. A empresa organizou-se, a redação organizou-se, a busca de qualidade tornou-se prioritária. Graças a isso o jornal ganhou espetacularmente os primeiros rounds no confronto com O Globo. Sem qualquer suporte de TV.

    Há exatos 38 anos, O Globo publicava um editorial na primeira página assinado por Roberto Marinho intitulado "O Dia que Faltava", rompendo o acordo de décadas que deixava o domingo para os matutinos e as segundas-feiras para os vespertinos. Era a declaração formal de guerra depois de tensas e demoradas negociações entre as duas empresas mediadas pelo deputado Chagas Freitas e o banqueiro José Luís Magalhães Lins.

    O derradeiro confronto jornalístico no Rio talvez tenha se travado no início dos anos 70 (ou fim dos 60) quando Roberto Marinho decidiu que O Globo não poderia ficar confinado ao esquema de vespertino e passou a circular aos domingos. Em represália, Nascimento Brito decidiu que o JB invadiria a segunda-feira. Encontro de gigantes, disputa de qualidade. Mesmo com a ditadura e a censura como pano de fundo.

A pífia cobertura da mídia




    A imprensa foi fria ao comentar o fim da parte impressa do JB. Acredito que não por falta de qualidade, já que material é o que não falta e o veículo tem sua importância para o país. Foi por omissão mesmo. Salvo apenas uma boa recapitulação do Observatório da Imprensa, da TV Brasil, e uma rápida nota do Jornal do SBT da noite. No mais, parece que nada ocorreu, tem gente que nem sabe que existe ou existiu o JB. Uma parte da história do Brasil foi ignorada, agora construída por uma emissora de um Bispo e outra que dita comportamentos. Alem de deteriorar com a derradeira instituição iluminista.


    A questão não é entregar uma concessão pública a um particular. Mas como geri-la. Um empresário da comunicação que não é da área, não lê jornais e os detesta, ou seja, aquele que não gosta do que faz, tem grande chance de ver seu negócio ruir. Ao contrário desse exemplo, vejamos o de Rupert Murdoch: jornalista por formação, acompanhou de perto as transformações de suas empresas de comunicação e o resultado é o sucesso de bilhões de dólares.O elefante branco do JB atropelou os escrúpulos e entregou o jornal a quem quer apenas fazer uma economia extra. Nelson Tanure anunciou o fim do Jornal do Brasil com um anúncio e aos assinantes entregou uma circular assinada por um preposto.


    Não teve luto, nem luta. O jornalismo morno e sem disputa faz bem para os sobreviventes da imprensa-celebridade, que ignoram o seu ofício ao fingir um acontecimento como o fim do JB. Preferiram o medo que seus chefes impõem.


“A imprensa abdicou das emoções porque aceitou transformar-se numa indústria tão transcendental quanto uma fábrica de biscoitos” – Alberto Dines.

Quem passou pelo JB


- Os pernambucanos Joaquim Nabuco (Diretor), Barbosa Lima Sobrinho e Ricardo Noblat (Repórter)
           

- Ruy Barbosa (Diretor)


- Alberto Dines (Editor-Chefe)


- Carlos Drummond de Andrade (como colunista)


- Chico Caruso


- José Sarney (correspondente no Maranhão-demitido em 1962 porque só mandava despachos que o favoreciam como político)




http://jbonline.terra.com.br/   - Para quem quiser ver o JB Online






















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