quinta-feira, 4 de março de 2010

A TV na Espanha.Ou seria no Brasil?

    O pessimismo acabou! O complexo vira-lata também! Não só a TV brasileira é ruim. Na Espanha, existe uma programação tão porcaria quanto a nossa. Reality-shows manipulados, telenovelas, programas de fofoca, violência na hora do almoço, excesso de publicidade e muito futebol. Tudo isso parece remontar o conteúdo audiovisual que temos no Brasil. Mas acreditemos ou não, faz parte da TV espanhola.



    O que move a TV na Espanha é a futilidade e o vazio que os reality-shows apresentam. Aliás de reality-show só serve o nome, já que aquelas pessoas são personificações criadas para estereotipar a cultura do país. Um exemplo de como isso foi feito : um participante fingiu ser gay para ganhar o programa. Mas e daí qual o problema? Nenhum, ele apenas foi esperto o suficiente para mexer não só com esse público específico que cresce a cada dia, mas com toda a nação, pois homossexualidade é um assunto em pauta e polêmico na Espanha depois da aprovação política de se aceitar o casamento gay no país. Bem esperto ele. Aqui no Brasil, recentemente o Ex-BBB Alberto revelou ao programa Ver TV da TV Brasil que aquilo é mesmo uma farsa. Ninguém representa o que é. Mesmo fazendo um esforço para parecer verdadeiro a edição faz uma triagem para colocar no ar os piores e melhores momentos de cada um dos participantes. E aí que mora o perigo: a Globo pode escolher quem será vilão ou mocinho do programa, passando aquela imagem para o público, que acredita fielmente, pois afinal, a idéia vendida é que aquilo é um reality-show, retrato fiel das pessoas. Pura enganação. Alberto reclamou de sua imagem ser associada de um vilão na casa, pois só mostrava coisas ruins sobre ele. Alberto se chateou mais por ter pedido para a produção aumentar a temperatura do ar-condicionado, pois o mesmo estava com uma forte gripe. Resultado do pedido: diminuição mais ainda.
    Uma freqüência na Espanha, e aqui, é querer saber a vida das “celebridades”. O nosso “Estrelas” da Rede Globo e “TV Fama” da Redetv são demonstrações. Na Espanha há um canal só para isso. O Telepeople tem durante todo o dia esse tipo de conteúdo informativo. As pessoas mesmo chamando-os de programa lixo, continuam assistindo. De nada adiantou. Essas pessoas são tão lixo quanto os programas que assistem.


    Lembramos do SBT de Sílvio Santos quando o assunto é novela estrangeira. Isso também tem na Espanha. Em apenas um canal espanhol, são 5 telenovelas sul-americanas que vão ao ar todos os dias. Sem falar nas cópias das Boys-Band norte-americanas protagonizadas ridiculamente também por sul-americanos, distorcendo 2 realidades: a primeira é a sul-americana que pouco tem em comum com a cultura dos EUA; a segunda é a própria realidade espanhola, que se torna confusa nessa hora. Pois imaginemos estar num país em contato direto com uma cultura, ter contato com outra bem diferente de uma hora pra outra através da televisão,sendo protagonizada ainda por outra que não é a sua nem a do objeto representado. É estar na Espanha, escutando e vendo a música pop sendo representada por descendentes de índios. E tem fãs.


    No Brasil já estamos acostumados a mudar de canal na hora do almoço e vermos as carnificinas. Na Espanha acontece também. As crianças após chegarem do colégio, vão à TV procurar com o que se distrair e só vêem violência. Para eles já é sinônimo de diversão. Alguns já estão tão acostumados que dizem ter a preferência por filmes de guerra, policial e gângster. Imagens ruins são repetidas a exaustão.


    Nada de cultura. O negócio é escurecer as mentes com aquelas programações fúteis já citadas. Para não dizer que não tem algo, a TVE2 é o único que transmite cultura, mas juntamente com esporte. Até aí tava bom demais, já que boa parte da programação cultural foi transformada em esporte, não que possamos discordar que esporte faça parte da cultura, mas o motivo principal foi aquele de uniformizar mentes através do futebol, principalmente. A desculpa foi a conquista do campeonato mundial de fórmula 1 pelo espanhol Fernando Alonso. Mas Futebol na Espanha é paixão nacional (alguma semelhança com o Brasil, alem da uniformização de mentes?), é transmitido tanto conteúdo relacionado ao assunto que flashes antes das partidas começarem e até treinos dos times são mostrados.



    Os espanhóis são tão hipócritas quantos os brasileiros. Sabemos mais da política internacional do que a nossa própria, seja por desleixo, descrença, falta de vontade por querer melhorar as coisas, ou simplesmente achar que tudo que vem de fora é melhor. Puro engano. Sem contar que aqui os políticos são donos de empresas de comunicação e mostram o que querem, trazendo um problema crônico de manipulação nacional. Nosso problema é mais grave. Na Espanha é desleixo mesmo, falta engajamento. Tanto que a Plus Espanha tem um programa de sátira, mas sobre política internacional e mesmo assim tem seu conteúdo ignorado.

    O que não faltam são comerciais na Espanha. As propagandas tomam boa parte da programação e tem temáticas que vão desde bebidas alcoólicas a clínicas que oferecem botox para as pessoas ficarem fúteis e iguais aquelas celebridades. No Brasil não é diferente.


    As propagandas depreciativas sobre as mulheres que são associadas à conquista através da cerveja ou de carro aflinge a psicóloga espanhola Isabel Ávila. Para ela, esse tipo de propaganda desonra a mulher. “Eu me sinto desvalorizada como mulher nessa TV lixo”, indigna-se. No Brasil, as mulheres não se sentem assim, até gostam.

    Não existe uma regulamentação audiovisual na Espanha, para fiscalizar qualquer tipo de atentado ao ser humano como se vê. Mas em breve uma regulamentação será votada, depois de 50 anos das concessões dadas pelo ditador General Franco. E isso se reflete no conteúdo impositório da TV espanhola de hoje.


    Na Espanha pelo menos se admite a origem da imposição de conteúdo para seu público. Já no Brasil, a regulamentação foi feita pelos políticos que são donos dos meios de comunicação em época de democracia (José Sarney,então presidente em 1988, deu concessões públicas de rádio e TV para amigos políticos em todo Brasil). Por aqui ainda reina a cara de pau de dizer que a ditadura acabou, e nos empurra goela abaixo toda a porcaria audiovisual para uniformizar nossas mentes. Viva a novela das 8, viva o BBB. Ser diferente é crime no Brasil, não dá voto.

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