quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Pequeno até fisicamente


Por Emanoel Barreto

A morte do minúsculo Kim Jong-il funcionou para mim como a metáfora viva do poderoso abominável. Pequeno até fisicamente, aquele ser humano encarnava o ridículo trágico do poder; aquele poder que, em seu exercício, pela mistificação permite a transformação do poderoso em mito.

Achava esquisito quando aquela figurinha aparecia. Como se fosse um duende amendoado, cercado de generais bem mais velhos que ele, Kim dava adeusinhos a multidões previamente adestradas à sua adoração. Curvados ao peso de uma miríade de medalhas apensas em suas roupas os generais rebrilhavam. O povo aplaudia.

Pelo adestramento as pessoas pareciam sinceramente ligadas àquele que regia suas vidas. O sistema de Coreia do Norte é de um orwellianismo impressionante, demencial. Nos últimos dias têm passado matérias na TV, como decorrência da morte do ditador. Já observou como marcham as tropas? Ficam entre o ridículo e o grotesto. A marcialidade robotizada lembra-me bonequinhos mecânicos. Para mim isso é a representação de como aquelas mentes funcionam: as coisas são o que o Partido diz que são.

Na verdade quero deplorar o Poder como instância de auto-preservação, posse do poderoso. No Ocidente temos uma manifestação de potestade diversa, mas habilidosa: pelo veio da ideologia vivida sem imposição aparente as pessoas seguem um mesmo caudal e cumprem normas que vão do consumismo à idolatria a um jogador de futebol. E isso é muito político. Quer dizer, de alguma forma, temos os nossos kins...

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