quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Um bom emprego num buraco federal

Por Emanoel Barreto

Um amigo me liga para informar que ganhou um novo emprego: está, garantiu alegríssimo, trabalhando num buraco. Disse que trabalhar em buracos é a nova onda e o mais alentado sonho de desocupados e apadrinhados de políticos e que tais. A relevância de tal ofício, disse, é que os buracos têm também status. "Têm status?", perguntei. E ele, empafiado, garante: "Sim!"  

E explicou: há o buraco de rua, aquele feito pela chuva, mas é buraco de segunda, não tem futuro; todavia, existe o buraco de estrada, os melhores estão em rodovias federais,  e estes já são buracos de maior tamanho e responsabilidade. Há ainda aqueles enormes, resultantes de pontes rompidas e grandes desastres naturais. Esses são o máximo, pois ali cabem muitos inúteis e assemelhados, magotes deles.

Os buracos maiores têm muitas ligações subterrâneas. Têm nichos climatizados, onde os citados elementos se acomodam para dormitar após almoço e janta. A importância do buraco é que, sendo confortáveis, digo aqueles buracos de primeira, o indivíduo pode dormir por lá mesmo e dia seguinte já está no serviço.


Perguntei a meu amigo como se arranja emprego num buraco e ele me respondeu que é coisa difícil, de grande complicação e altos engenhos, perquirições e encômios. E, com um olhar vago e algo sarcástico, disse, já que eu insinuava saber demais a respeito de tão altas instâncias: "Não é para o seu bico."

Disse isso e meteu-se num buraco federal que ia passando. Sumiu. Dias depois passou novamente pela minha casa e anunciou: "Agora estou trabalhando numa gaveta: cheia de contratos e papéis de cauixa dois. De lá só saio se for para trabalhar, e me aposentar, no escaninho de alguma ONG.

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