quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Coronel da PM, advogado e pastor serão denunciados como verdadeiros mandantes da morte de Radialista

Por Anderson Barbosa - Novo Jornal

Reviravolta à vista. Surpreendente, aliás. Para a Polícia Civil, existe uma grande chance de o comerciante Lailson Lopes – mais conhecido como o Gordo da Rodoviária – não ter sido o real mandante da morte do radialista Francisco Gomes de Medeiros, o F. Gomes, assassinado a tiros no dia 18 de outubro de 2010, em Caicó. As investigações levam a crer que o mentor, ou melhor, que os orquestradores do homicídio, crime que chocou não apenas a região Seridó, mas todo o Rio Grande do Norte, agora são três. Um tenente coronel da Polícia Militar, um pastor evangélico e um advogado surgem como os prováveis contratantes do mototaxista João Francisco dos Santos, mais conhecido como Dão.

Dão é réu confesso no processo. Isso não muda. No entanto, o fato é que o inquérito não foi encerrado como se imaginava. O julgamento de Dão e de Lailson ainda não tem data certa para acontecer. E pelo visto, vai demorar mais algum tempo, já que estas novas informações estão sendo apuradas pela Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado, a Deicor.

A primeira, obviamente, trata da possibilidade de Lailson ser inocente. A segunda vem em razão da primeira, ou seja, do valor acertado pela alma do radialista. Consta no inquérito que o assassino teria sido contratado por R$ 10 mil para puxar o gatilho. A polícia ainda não sabe se Dão recebeu o dinheiro. Três mil reais seriam pagos para ele atirar e fugir. Os sete mil restantes seriam pagos posteriormente, quando a poeira sentasse.

Os nomes do tenente coronel, do advogado e do religioso foram repassados à reportagem, mas serão mantidos em sigilo até que as denúncias sejam formalizadas ao Ministério Público. A delegada Sheila Freitas, titular da Deicor, foi procurada para falar sobre o caso, mas não quis dar qualquer declaração. O mesmo aconteceu com o delegado geral Fábio Rogério. Por telefone, ele preferiu não comentar a possibilidade de uma reviravolta, mas admitiu que as informações realmente procedem.

Lailson Lopes, preso desde fevereiro deste ano, encontra-se encarcerado na Cadeia Pública de Caraúbas. Foi atrás das grades, a propósito, onde a nova versão para os fatos veio à tona. De acordo com o informante que passou as informações ao NOVO JORNAL, cujo nome também será mantido em segredo, as peças que podem fechar em definitivo o quebra-cabeça surgiram após um depoimento revelador do então acusado. O interrogatório foi feito na semana passada, lá mesmo no presídio.

“Laison está sofrendo chantagem. O pastor e o advogado foram até Caraúbas e ameaçaram matar seu filho. Caso ele não permanecesse calado, ou não assumisse toda a culpa, o filho dele, um rapaz de 14 anos, também seria executado”, contou a fonte.

Contudo, a chantagem e as ameaças não surtiram o efeito esperado. Lailson resistiu à pressão e abriu a boca. Porém, para revelar tudo o que sabia, inclusive se comprometendo em confirmar tudo em juízo, ele exigiu proteção de vida, incluindo garantias de segurança para sua família. A Polícia Civil aceitou o acordo.

Lailson assumiu que realmente não gostava de F. Gomes. Porém, não teria motivos para vê-lo morto. Mesmo que o radialista o tivesse denunciado várias vezes no programa que mantinha na Rádio Caicó AM, foram outras denúncias feitas pelo comunicador que supostamente motivaram sua morte. “Não tem nada a ver com o que foi divulgado até agora. Nada de drogas ou denúncias contra o próprio Lailson. Mataram F. Gomes porque ele vivia denunciando irregularidades dentro do Presídio Estadual de Caicó, o Pereirão”, acrescentou a fonte.

Todo o interrogatório está gravado em vídeo e áudio. O material será entregue ao MP nos próximos dias. Depois disso, a responsabilidade de analisar os fatos e de oferecer ou não novas denúncias à justiça ficará nas mãos dos promotores. Se isso acontecer, mandados serão expedidos e certamente levarão o oficial do alto escalão da PM, o advogado e o religioso à cadeia. Já o comerciante, uma vez inocentado, deverá ser solto e incluído no Programa de Proteção à Testemunha. Sua família também.

Reviravolta antecipada
 Esta não é a primeira vez que a possibilidade de haver uma reviravolta no caso F. Gomes é ventilada. Em matéria publicada no último dia 5 de agosto, o NOVO JORNAL já havia antecipado o assunto. Na época, o advogado Antônio Carlos de Souza Oliveira, defensor do comerciante Lailson Lopes, afirmou que seu cliente era inocente. Contudo, as provas só seriam reveladas no dia do julgamento. “Surgiram fatos novos”, disse o advogado, acrescentando que testemunhas iriam depor a favor do Gordo da Rodoviária.

Questionado desde quando possui conhecimento de tais informações – suficientes, segundo ele, para levar o juiz Luiz Cândido de Andrade Villaça a pedir a prisão dos supostos verdadeiros mandantes do assassinato do radialista – Antônio Carlos disse que só ficou sabendo das chantagens e das ameaças depois que o comerciante já estava preso. “Como só assumi o caso depois da audiência de instrução, meu trabalho foi prejudicado. Se tivesse assumido desde o início, antes do magistrado ter se pronunciado, certamente o Lailson nem iria a julgamento”, frisou o advogado.

Réu confesso diz que matou em legítima defesa
O mototaxista João Francisco dos Santos, o Dão, apesar de ter admitido os disparos, segue alegando que atirou em legítima defesa. Ele afirma que ao se aproximar de F. Gomes, o mesmo teria feito menção de que sacaria uma arma. No momento em que F. Gomes tombou na calçada de sua casa, no entanto, não havia nenhuma arma com ele, apenas um jornal que estava lendo quando foi baleado.

Atualmente, Dão encontra-se trancafiado numa das celas do Presídio Provisório Professor Raimundo Nonato Fernandes, na Zona Norte de Natal. Já Lailson, o Gordo da Rodoviária, permanece preso na Cadeia Pública de Caraúbas.

Júri popular
O juiz Luiz Cândido de Andrade Villaça, titular da Vara Criminal da Comarca de Caicó, proferiu sentença de pronuncia no dia 4 de agosto, quando mandou ir a julgamento popular os dois presos apontados com autor intelectual e autor material da morte do radialista F. Gomes, no caso o comerciante Lailson Lopes e o mototaxista João Francisco dos Santos, o Dão.

Conforme previsto pelo artigo 121 do Código Penal Brasileiro, se condenados, ambos podem ser punidos com penas de reclusão de 12 a 30 anos, uma vez que, “no caso, o homicídio teria sido triplamente qualificado, sendo praticado pelo acusado impelido por motivo fútil, bem como praticado à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima, e mediante paga, promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe”, proferiu o magistrado.

Com relação ao acusado de ter efetuado os disparos, o juiz relatou que o laudo do exame residuográfico deu positivo para a existência de chumbo nas mãos de Dão. Sobre Lailson, mesmo tendo este negado qualquer participação no crime, o magistrado entendeu que houve indícios que apontam para sua autoria intelectual. “Registros telefônicos demonstram que houve várias ligações entre os celulares de Dão e Lailson no dia do fato, antes e depois do delito", concluiu Villaça.

 Memória
Dão foi preso um dia após crime. Já Lailson, só foi apresentado à imprensa como o mandante da morte de F. Gomes no dia 23 de fevereiro deste ano, durante coletiva concedida pelo delegado Ronaldo Gomes, na época delegado geral. Na ocasião, Ronaldo afirmou que o comunicador não foi assassinado por conta das matérias que fazia combatendo o tráfico de drogas no Seridó, mas sim porque o comunicador usou os microfones da rádio para denunciar que a loja de celulares de Lailson funcionava como uma fachada para encobrir a prática de atividades criminosas em Caicó.

O radialista F. Gomes tinha 46 anos quando foi assassinado. Ele morreu na calçada de sua casa, na Rua Professor Viana, bairro Paraíba, noite de 18 de outubro do ano passado. Atingido por três tiros, ele chegou a ser socorrido ao Hospital Regional, mas não resistiu aos ferimentos. F. Gomes era casado e deixou três filhos.

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