segunda-feira, 13 de junho de 2011

O menino Audálio

Por José Marques de Melo

Audálio Dantas ainda era menino quando deixou Tanque D’Arca, cidade encravada no agreste alagoano, para conquistar o mundo. O percurso Maceió-Santos ele fez num navio costeiro, munido de certidão atestando a maioridade. Esse artifício “legal” para transformar meninos em homens era tramado naturalmente pelas famílias nordestinas.

Encurtar o caminho dos filhos em direção ao mercado de trabalho justificava a alteração da data de nascimento, contando com a cumplicidade do tabelião amigo. Isso abriu as portas do jornalismo a vários repórteres imberbes, como aconteceu com Audálio.

Sua ascensão na carreira noticiosa foi lastreada por uma espécie de iniciativas que o guindaram à equipe da emblemática revista Realidade. Nos idos de 1960, o jovem repórter atravessou as fronteiras nacionais para contar histórias palpitantes do caldeirão político latino-americano. Mas foi na periferia de São Paulo que o intrépido alagoano farejou a reportagem consagradora. Ao contar a história da favelada que despistava a fome anotando num caderno suas amargas observações cotidianas, Audálio demonstrou sua maturidade profissional. 

Mas a fama não alterou a simplicidade do repórter, que venceu no jornalismo por méritos próprios. Tanto assim que os colegas de ofício o guindaram à liderança sindical, conduzindo-o ao topo da representação da categoria. De presidente do sindicato de São Paulo, chegou à presidência da federação nacional.
Ingressando na política, Audálio Dantas conquistou o mandato de deputado federal, atuando como porta-voz dos jornalistas durante a escritura da Constituição Cidadã (1988).

Missão cumprida em Brasília, recebeu, em São Paulo, convocação inusitada. Desafiado pelo governador do estado para dirigir a Imprensa Oficial de São Paulo, ele revelou competência como gestor público. 

Transformou uma gráfica áulica numa editora de referência. Onde, além do Diário Oficial, antes se publicava obras medíocres, escritas pelos cortesãos republicanos, passaram a figurar coleções de livros produzidos pelas instituições públicas geradoras de conhecimento e difusoras de cultura.

Esse legado foi preservado e aperfeiçoado pelos gestores que o sucederam. O selo Imesp adquiriu credibilidade e prestígio no circuito editorial do país. Por isso, constitui ato de justiça intelectual e reconhecimento público a escolha de Audálio Dantas como patrono da 5ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas.

Em outubro, retorna às origens o menino de Tanque D’Arca, que já biografou os meninos Graciliano e Lula, e agora narra a odisséia de Vladimir Herzog. Audálio volta a Alagoas para receber a homenagem da intelectualidade nacional e o carinho de seus conterrâneos.

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