sábado, 30 de abril de 2011

Poucos jornais têm um Ombdsman


A coluna destinada ao ombudsman do jornal O Povo, do Ceará, é escrita pelo jornalista Paulo Rogério. O responsável pelo cargo tem a função de receber críticas, sugestões, reclamações e deve agir em defesa da população que adquire os serviços de comunicação. Ele atua como um verdadeiro representante dos interesses da comunidade no quesito do tratamento da informação.

O espaço no referido jornal é preenchido uma vez por semana,sempre aos sábados. Antes do conteúdo propriamente dito na coluna, Paulo Rogério inicia sempre com uma citação de algum profissional da comunicação sobre as práticas nos meios e a questão da ética, com a tentativa de provocar a reflexão sobre o fazer jornalístico. Os títulos são sempre alusivos e subjetivos, sem o uso de verbo e frases em ordem direta que caracterizam o título noticioso.

A estrutura do corpo do texto é construída inicialmente por um comentário sobre alguma matéria mais especial da semana, que teve maiores desdobramentos, aquela que provocou mais repercussão, e por tal razão, admite uma maior dedicação e espaço com várias linhas escritas pelo articulista. 

Em seguida os outros comentários de outras matérias menos impactantes da semana são expostos, também com títulos alusivos que expõem a opinião do responsável. Nestes casos, é possível ver tanto textos de extensões médias assim como textos mais curtos de uma ou duas linhas, como nos casos de breves discrições nas partes “Fizemos bem” e “Fizemos mal”.

Sobre o conteúdo em si dos comentários da coluna do último sábado (23), é aparentemente notório que o ombudsman vem cumprindo com o papel que lhe é recomendado. Existe tanto coisas favoráveis como desfavoráveis ao veículo para qual trabalha. Ele reclama da falta de cobertura que poderia ser mais explorada em determinado caso, esquecimento de datas importantes para a humanidade, falta de contextualização nas matérias e esquecimento de finalização sobre um evento. A parte boa foi o elogio a uma série de reportagens feita pelo jornal com o tema das marés que atingem a capital.
A seguir, a coluna completa do ombudsman:

Silêncio assustador
23.04.2011
O jornalismo investigativo está morto. Sobrevive, tão somente, em salas de aula. Apenas porque lá repórteres engravatados vão dar palestras.”
Claudio Julio Tognolli, jornalista e professor da ECA - SP

Um ano se passou do assassinato do ambientalista José Maria Filho, o Zé Maria do Tomé, em Limoeiro do Norte, e nada foi esclarecido ainda. Mas, pior mesmo que a duvidosa capacidade da Polícia em desvendar o mistério, só o silêncio da imprensa diante do caso. Um silêncio assustador. Onde anda o tão defendido jornalismo investigativo capaz de fugir dos boletins de ocorrência, de entrevistar personagens envolvidos ou de analisar fatos e descobrir fatos novos até responder a questões como: Quais interesses estavam envolvidos na morte dele? Quem lucrou? Quem perdeu? Em que linha a Polícia está atuando? Enfim, fazer o seu papel de cobrança junto às autoridades e procurar a verdade.

Na edição do dia 21 a manchete da editoria Ceará - “Um ano da morte de Zé Maria e crime segue sem solução” - até que tocou no assunto. Repórter e fotógrafo foram enviados especialmente até Limoeiro. Porém a matéria restringiu-se a mostrar o protesto, o drama da viúva do ambientalista e o lançamento de uma campanha contra uso de agrotóxicos. O abre da matéria ainda anunciou que “as investigações sobre o crime continuam”. Isso ficou por conta do jornal afinal ninguém da Polícia foi procurado para dar detalhes de como “continua” a investigação. A única menção sobre ela surgiu em declaração da viúva de Zé Tome: “Só sei que está na Delegacia de Homicídios”. E era para estar onde? Na Delegacia do Turismo?

A viúva não tem culpa de não saber detalhes. Deve ter até medo de se aproximar da Polícia. Mas repassar esse tipo de informação é um ultraje à inteligência do leitor. Não há no texto qualquer menção de contato com a referida delegacia para saber o andamento da investigação. Porque essa demora? O jornal se limitou ao simples relato do protesto e do sentimento de impunidade que a população vive. Perdeu a oportunidade de se aprofundar no problema e mostrar o que está sendo feito. Um trabalho que era para ser produzido bem antes do deslocamento de repórteres.

ANTECIPOU...

Uma das lições básicas do jornalismo impresso é que o leitor não é obrigado a ler jornal todo o dia. Parece primário, mas a rotina da Redação leva muitos profissionais a pensarem que todo leitor está acompanhando diariamente o que é publicado, que já sabe os antecedentes de uma notícia e nem precisa de qualquer contextualização. “Ora, se já demos esse detalhe antes, não precisamos dar mais” pode pensar o jornalista. Mas não é bem por ai. Quando se trata então de datas comemorativas a situação tem se mostrado bem diferente.

Dois fatos recentes ilustram o caso. No último dia 12 comemorou-se o cinquentenário da primeira viagem do homem ao espaço. O POVO não deu uma única linha na edição daquele dia. O fato já havia sido mencionado dois dias antes, na seção Cosmos do caderno Ciências & Saúde. Na semana passada, dia 19, o cantor Roberto Carlos completou 70 anos. Uma data marcante e um artista popular, ingredientes suficientes para um bom ponto de leitura. Novamente o fato passou em branco na edição daquele dia. Tudo sobre o aniversário e a carreira do “Rei” foi publicado quase 15 dias antes, na edição do dia 3 do Vida & Arte Cultura.

...E ESQUECEU

Anteciparam tanto o fato que no dia exato esqueceram. E o leitor que não vinha acompanhando o jornal por qualquer motivo ficou sem saber de nada. O ombudsman foi um. No dia 3, um domingo, estava de férias, longe do Ceará e sem qualquer exemplar do O POVO por perto. Assim, no dia 19, como um leitor comum, estranhei ao não ver nada sobre o Rei. Nos dois casos os editores justificaram que já haviam tratado do assunto anteriormente. Não viram necessidade de voltar ao tema.

Discordo e senti na pele isso. Antecipar para produzir um material especial é válido, mas deve-se fazer o registro histórico no dia correto. O leitor de hoje nem sempre é o mesmo de ontem e o leitor de amanhã, se não encontrar, pelo menos os fatos do dia, pode nem se interessar mais pelo jornal.

PALESTRAS

O ombudsman do O POVO terá duas atividades fora do jornal durante esta semana. Amanhã estarei debatendo com estudantes de Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro (FA7), a partir das 19 horas. Participo ainda, como palestrante, de curso para ouvidores da Prefeitura de Fortaleza em data a ser confirmada ainda.

FOMOS BEM

AVANÇO DO MAR. Série de matérias fez um bom raio x da degradação do litoral cearense.

FOMOS MAL

MEIA MARATONA DE FORTALEZA. Até hoje leitor não sabe quem venceu e como foi a prova.

ESQUECIDO PELA MÍDIA

Como anda projeto de criação do Conselho Estadual de Comunicação?
Paulo Rogério

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