terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Pra tudo se acabar na quarta-feira


Por Emanoel Barreto



Fábio Motta/A

O incêndio na Cidade do Samba, se tivesse sido maior, acabando por completo com o estuário de fantasias e carros alegóricos, assumiria aspecto de tragédia nacional.

Pelo simples fato de que o carnaval, que impera no imaginário brasileiro como uma espécie de sagração à nossa alegria, consagração bacante-tropical a festejar ninguém- sabe-bem-o-quê, poderia não se realizar com a monumentalidade costumeira.

Podemos sofrer em filas o ano inteiro, ver pessoas morrendo na fila do INSS para assegurar um direito, podemos amargar problemas enormes na educação,
na segurança, na cultura, nas estradas, podemos
suportar a tragédia na região serrana do Rio, mas não podemos passar sem o carnaval.
Fábio Motta/AE

É preciso sambar, mais que tudo é preciso sambar. É preciso mobilizar milhares de pessoas pobres e desassistidas para que se iludam com a festa, com a orgia patriótico-escapista de ser um rei na avenida - pra tudo se acabar na quarta-feira.
Não se pode negar a importância do carnaval, não se pode ocultar a beleza daquela ópera malandra e esfuziante cruzando a avenida.

É lindo, é incrível, mas é apenas isso: lindo e incrível. É incrível como o sonho pelo sonho organiza multidões formigando de trabalho para preparar um desfile. É lindo pensar-se o sonho louco de ser nada e ao mesmo tempo ser tudo quando se percorre a Sapucaí. Depois, bem, depois vem o Brasil velho do dia a dia.

Talvez a tragédia do carnaval tragado parcialmente pelo fogo nos devesse levar a pensar que bem mais que um sonho, seria melhor começar a preparar a realidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário