terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Um velho tabu brasileiro



A imagem logo exposta é mais do que uma simples fotografia. Na verdade, representa a satisfação pelo poder, e até mais do que isso, o êxtase do êxito, de quem elabora as leis em benefício próprio.  Trata-se das figuras de Antônio Carlos Magalhães (á esq.) e José Sarney, os coronéis do atraso, aqueles que mandaram e desmandaram na região Nordeste por muitos anos, principalmente na Bahia e no Maranhão.

A referida foto foi feita em 1989, na posse do novo presidente do Brasil, José Sarney, após anos de ditadura. Com ele seu companheiro maquiavélico, Antônio Carlos Magalhães (ACM), tão mandão na Bahia quanto Sarney no Maranhão. Ambas famílias oligarcas e coronelistas são donas de veículos de comunicação em seus estados, influenciando a opinião pública há mais de 40 anos. A família de ACM foi dona da TV Aratu, que depois virou TV Bahia (filial da Globo). E na fotografia acima o óbvio, José Sarney nomeara ACM para ser ministro de seu governo, logo ministro das comunicações. Isso não tem ironia alguma.

Hoje, na terceira geração, depois da morte do avô,ACM-Neto é deputado federal.



Antes, em 1988, para fazer juramento da nova constituição “cidadã”, os políticos aprovaram-na com direito a todas as manobras que contém, inclusive na parte que diz respeito a comunicação. Não parte referida há um item dizendo que políticos não podem ser donos, mas podem ser diretores dos veículos. Ora, se não vejamos, os políticos são diretores na teoria, na formalidade, mas na prática mandam na linha editorial a seu favor, são donos. A esperteza foi aprovada porque existe um grande número de políticos que são donos de veículos de comunicação e mantém suas famílias sempre eleitas por causa dessa máquina poderosa.

É assim em muitos lugares

Outro exemplo emblemático é o estado do Rio Grande do Norte. As famílias Alves e Maia simplesmente manda prender e soltar porque possuem. No caso dos Alves, eles são donos da Rede Cabugi de Comunicação, que faz parte a TV Cabugi (filial da Globo) e o jornal de maior circulação, Tribuna do Norte. Um caso emblemático de falar o que tem interesse dessas pessoas foi o caso dos escândalos das farras das passagens aéreas. Na ocasião o então deputado federal Henrique Alves foi o que mais pagou passagens para sua família com dinheiro público. Foi notícia nacional, passou em todos telejornais. No outro dia nenhuma surpresa: não existia uma nota sequer sobre o caso na Tribuna do Norte.

Já no caso dos Maias, são donos da Rede Tropical, que envolve a TV Tropical (filial da Record) e um monte de rádios espalhadas pelo interior do estado.

Por isso vemos sempre as mesmas caras em Brasília há tantos anos, diga-se Garibaldi Alves e José Agripino Maia, que por causa desse tabu brasileiro já elegeu em duas vezes seguidas seu filho a deputado federal, Felipe Maia.

Será que muda?

Como vimos, a relação comunicação/política pode ser muito perigosa para as pretensões de avanço de um país. Mas ainda há esperança disso mudar. Está em discussão no Congresso Nacional, se há como aprovar uma consulta pública afim de dar um novo marco regulatório para a comunicação do Brasil, que inclui justamente a proibição dos políticos serem donos dos veículos. Mas acho difícil a tentativa ir para frente, as velhas raposas não deixariam isso acontecer, seria uma perda para eles, tanto que o assunto está morrendo. Ao que parece que a sociedade é quem vai continuar a perder.

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